Familia Kennedy e suas Conexões com a máfia
Uma família movida a ambição política, sexo, drogas e tragédias - essa é a história do clã mais famoso dos EUA
Uma das maiores dinastias políticas americanas do século XX foi financiada, em parte, por álcool. Há rumores há décadas que Joseph P. Kennedy, cujos nove filhos incluem o presidente John F. Kennedy, e os senadores norte-americanos Robert e Edward Kennedy, fez sua primeira fortuna como contrabandista durante a Lei Seca.
Mas enquanto o patriarca do clã Kennedy certamente teve seus pontos fracos, inclusive jogando rápido e solto no mercado de ações antes de 1929, o comércio de bebidas ilícitas não era um deles, de acordo com David Nasaw, autor de The Patriarch: The Remarkable Vida e tempos turbulentos de Joseph P. Kennedy.
"Como seu biógrafo, eu adoraria ter descoberto que ele era um contrabandista", diz Nasaw. “Isso me daria todo tipo de grandes histórias. Eu localizei todos os boatos que eu pude encontrar e nenhum deles deu certo. Ficou realmente claro que todas as histórias sobre seus roubos eram apenas ridículas.”
Uma família de caso com a Máfia
Um grande economista “aconselhava” a não se vasculhar a origem das grandes fortunas: em algum momento, o pesquisador inquieto corre o risco de encontrar na base de tudo um escroque, um espertalhão. Depois de muitos anos de lavagem, a fortuna é apresentada como tendo origem nobre. Na Inglaterra, na Suíça, nos Estados Unidos, algumas fortunas foram construídas com o tráfico de escravos. Depois o dinheiro foi lavado no mercado financeiro. No Brasil, não é diferente. A fortuna da família Kennedy não tem uma origem honesta, segundo Seymour Hersh. Formado em Harvard, Joe Kennedy assumiu a presidência do banco Columbia Trust Company. Em seguida, ganhou dinheiro produzindo filmes. Habilidoso, retirou-se do mercado financeiro antes do crash de Wall Street, em 1929.
Em 1931, Joe Kennedy assumiu a caixinha da campanha de Franklin Delano Roosevelt. Eleito, “Roosevelt surpreendeu Washington e Wall Street em meados de 1934 ao nomear Kennedy, notório manipulador do mercado de ações, presidente da Comissão de Títulos e Câmbio, uma agência da política do New Deal montada para reformar e regular os mercados financeiros. Dizia-se que Roosevelt explicou a estranha escolha citando, com uma risada, um velho ditado: ‘É preciso um ladrão para prender um ladrão’”.
Na verdade, a grande fortuna de Joe Kennedy foi amealhada com negócios escusos, fora do mercado financeiro. “O que se sabe é que o dinheiro ‘começou a rolar na família’ no início dos anos 20, na mesma época em que agentes federais, que não sabiam nada de Joe Kennedy, começaram a verificar a chegada de enormes cargas de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos, estimuladas pela insaciável demanda americana por bebidas e pelo advento da Lei Seca.
Kennedy foi um dos primeiros a obter uma posição dominante na importação de bebidas alcoólicas. Usava licenças médicas para evitar as restrições da Lei Seca, adquirindo íntimo conhecimento dessa indústria, que o colocaria à frente dos competidores do contrabando quando chegou o momento. Correu para Londres no outono de 1933, quando ficou claro que a Lei Seca estava por terminar, e assinou acordos que o tornavam o único distribuidor americano de dois uísques especiais e do gin Gordon. Kennedy fundou a Somerset Importers Ltda., e dirigiu-a até sua surpreendente venda, por 8 milhões de dólares, em 1946 (equivalente a aproximadamente 55 milhões em 1997).”
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Ao contrário do que especularam biógrafos condescendentes, Joe Kennedy não ficou pouco tempo contrabandeando bebidas. Não foi um negócio corriqueiro. “Joe Kennedy estivera profundamente envolvido no contrabando de bebidas alcoólicas desde os primeiros dias da Lei Seca — um negócio dominado por líderes do crime organizado como Frank Costello, de Nova York; Abner ‘Longy’ Zwillman, de Newark, e Al Capone, de Chicago.” Seymour Hersh conta que Joe Kennedy foi sócio da Máfia, o que é mais aterrador: “A afirmação mais direta do envolvimento de Kennedy no contrabando de bebidas veio de Frank Costello, o chefão mais poderoso da Máfia dos anos 40 e 50, que tentou, nos seus últimos anos, legitimar-se como negociante bem-sucedido”. Em 1973, com 82 anos, Costello contou ao jornalista Peter Maas sobre sua sociedade com Joe Kennedy. “Mas contou ao ‘New York Times’ que Costello tenha dito que ele e Joe Kennedy tinham sido ‘sócios’ no contrabando de bebidas durante a Lei Seca. Uma sociedade que começou, segundo Costello, depois de Joe Kennedy procurá-lo para pedir ajuda.” Enquanto trapaceava com mafiosos, o pai de Jack Kennedy tinha várias amantes, uma delas Evelyn Crowell, viúva do gângster Larry Fay. O mafioso Fay, segundo Seymour Hersh, “tornou-se o modelo de gângster no clássico ‘O Grande Gatsby’, de F. Scott Fitzgerald”.
Outro sócio de Joe Kennedy no contrabando de bebidas foi o mafioso Owney Madden. O juiz federal Abraham Lincoln Marowitz, de Chicago, disse a Seymour Hersh: “Joe Kennedy contrabandeava lá em New England, e conhecia todos os caras. Tinha conexões com a Máfia. Kennedy não poderia ter atuado daquela forma sem a aprovação da Máfia. Ela também o teria derrubado”. Em 1923, roubaram uma carga de Joe Kennedy e ele ficou furioso com a Máfia. Alguns mafiosos diziam que a fúria de Robert (Bob) Kennedy contra a Máfia, quando procurador-geral, era influência do pai. Era um ódio familiar.
Os rumores de Kennedy, o contrabandista, não vieram à tona até o final das décadas de 1960 e 1970, diz Nasaw, quando os teóricos da conspiração estavam procurando por razões pelas quais a máfia poderia ter desempenhado um papel no assassinato de JFK . A teoria era que o pai do presidente havia feito inimigos no submundo durante seus dias como pirata.
O avô corrupto e o peso do dinheiro
O primeiro a ser investigado não é um Kennedy, mas o avô materno de John (Jack) Kennedy — John F. ‘Honery Fitz’ Fitzgerald, um político corrupto. Honery Fitz foi eleito para o Congresso em 1918 com “votos de homens mortos em combate na Primeira Guerra Mundial” (sim, os Estados Unidos já imitaram o Brasil) e de “soldados que ainda estavam na Europa”. Joseph (Joe) Kennedy, pai de Jack, aprendeu muito com o sogro. Um de seus assessores dizia: “São necessárias três coisas para ganhar (eleições): a primeira é dinheiro, a segunda é dinheiro e a terceira é dinheiro”. Em 1946, Jack foi eleito para o Congresso e descobriu, nas palavras do jornalista Seymour Hersh, que “boa aparência, boa organização e trabalho duro não eram suficientes. Acima de tudo, ele precisava do pai — e do pai”. A família Kennedy era riquíssima. Quando morreu, em 1969, “o valor das propriedades de Joe Kennedy e de suas várias companhias foi estimado, pelo New York Times, em ‘possivelmente 500 milhões de dólares’”. Hoje, esse valor seria de bilhões de dólares, uma fortuna equivalente à de bilionários americanos e, até, brasileiros (nós “temos” as famílias Marinho, Ermírio de Moraes, Batista-JBS Friboi, Moreira Salles).
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A compra de primárias e convite a uma menor para ir a seu quarto
Em Uma Vida Inacabada: John F. Kennedy, 1917-1963, publicado em 2003, o autor, Robert Dallek, revelou em detalhes como John Fitzgerald Kennedy comprou as primárias da Virgínia Ocidental em 1960. Dallek introduz um JFK que durante essa mesma campanha de 1960, na qual seu pai gastou milhões, parecia não dar importância ao resultado. Por exemplo: arriscou tudo ao convidar uma líder de torcida menor de idade a ir a seu quarto de hotel.
Conexões com a máfia
Seymour M. Hersh, que ganhou o Pulitzer por um livro sobre o massacre de My Lai, diz que em 1960, para conduzir seu filho à Presidência, Joseph P. Kennedy (pai de JFK) realizou uma reunião secreta com o gângster de Chicago Sam Giancana. O patriarca da família prometeu uma Casa Branca que faria vista grossa para suas atividades se os sindicatos liderados pela máfia providenciassem força e dinheiro para a candidatura de Kennedy. Esse acordo, diz Hersh, inclinou a balança para os votos eleitorais decisivos em Illinois.