Cultura e Entretenimento

A Máfia teve papel ativo na II Guerra Mundial

O governo americano pede ajuda a um dos mais sanguinários mafiosos dos EUA: Salvatore Lucky Luciano

Combater Mu$$olini deu lucro$ ao$ mafioso. Um ensaio para o Dia D, o desembarque Aliado na Normandia, litoral da França, em 6 junho de 1944. Assim é definida, pelos analistas militares, a invasão da Sicília (a Operação Rusky), em 10 de junho de 1943, depois da conquista do Norte da África. O Dia D representa a abertura de uma segunda frente de guerra na Europa, que vinha sendo pedida por Stálin aos EUA, Grã-Bretanha, França desde a Operação Barba-Roxa, ... a invasão da URSS pela Alemanha, dois anos antes. Para diminuir o número de mortos no ataque à Sicília - o berço na Máfia – o governo americano pede ajuda a um dos mais sanguinários mafiosos dos EUA: Salvatore Lucky Luciano. A participação dos amigos do mafioso ajuda as tropas aliadas, mas também serve para revitalizar a Máfia italiana, que desde a década de 1920 vinha sendo combatida a ferro-e-fogo pelo ditador Benito Mussolini. Além da Máfia, os Aliados apelam para a esperteza e montaram uma operação para desviar a atenção dos alemães, usando um cadáver de um homem morto por pneumonia que enganou Hitler.

Um acordo foi feito entre a marinha, o estado de Nova York e um dos maiores chefes da máfia ítalo-americana, Lucky Luciano, no que ficou conhecida como Operação Submundo (Underworld). Luciano, que estava preso, condenado a 30 anos de prisão, concordou em colocar sua organização para ajudar a marinha com informações de inteligência e contra qualquer ameaça de sabotagem dos fascistas e nazistas.

Depois da guerra, a pena de 30 anos de prisão de Luciano foi revogada, com a condição de que ele não resistisse à deportação para a Itália, o que ele aceitou.

A Máfia entra na luta

Penitenciária de Great Meadows, em Albany, Estado de Nova Iorque. Outono de 1942. Numa das celas, acontece um encontro inimaginável em outras épocas: entre um dos gangsters mais sanguinário da Máfia, Salvatore Lucky Luciano, e um oficial do serviço secreto da Marinha dos EUA. A razão da visita do militar: pedir que a Máfia da Sicília ajude as tropas anglo-americanas. O primeiro contato com o mafioso fora numa penitenciária de segurança máxima, em Clinton, perto da fronteira com o Canadá, por um advogado especializado em defender mafiosos: Moisés Polakoff.

Depois desse encontro, Luciano é transferido para Albany, onde tem certas regalias: recebe visitas e sai com freqüência. (O apelido Lucky – sortudo – vem de um episódio na época da Lei Seca (1920-1933), quando Luciano é seqüestrado, espancado e queimado com brasa de cigarro, para entregar a localização dos depósitos de uísque de sua facção mafiosa. Luciano resiste e não diz nada. Mesmo assim, ao contrário de outros casos semelhantes na guerra dos contrabandistas de álcool, o mafioso não é morto, e daí em diante passa a ser conhecido como Lucky Luciano.

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Máfia x Mussolini
A ideia do Governo dos EUA é diminuir ao máximo o número de baixas na invasão. O pedido de ajuda do governo americano encontra a Máfia italiana na pior fase de sua já então longa história. Tudo por causa da guerra sem trégua que o ditador Benito Mussolini desfechara, na década de 20, contra a organização, também chamada de Cosa Nostra ou Honrada Sociedade. O que desencadeou a luta do Duce foi um incidente na cidade de Piana Degli Albanezi, em 1924.

O capo mafioso local, Ciccio Luccia, era também o presidente da Câmara de Vereadores. Arrogante, don Ciccio, ao entrar no carro em que estava Mussolini, diz ao capitão encarregado da segurança do Duce:

- Não tem nada a recear enquanto estiver comigo. Aqui, quem dá as ordens sou eu.

É Ferro na Máfia
Mussolini fica furioso, mas na hora não faz nada. Semanas depois, porém, num discurso no Parlamento, em Roma, declara guerra à Máfia. Para combater a organização, o ditador nomeia Cesare Mori, prefeito da capital siciliana, Palermo. Em três anos, Mori justifica o apelido que tinha (“prefeito de ferro”) e ataca a Máfia com toda a força: prisões, torturas e assassinatos. O “Sr. Antimáfia” (como passou a ser chamado) introduz métodos - por assim dizer - modernos nas torturas, com o uso de um dínamo elétrico, uma maquininha que, nos porões da Ditadura Militar brasileira (1964-1984), era chamada pelos torturadores de maricota ... ).

Boato contra recrutamento
Em 1927, Mussolini volta ao Parlamento para anunciar que a Máfia estava derrotada. Ledo engano: os principais chefões conseguem escapar - uns fogem para a Tunísia e, principalmente, EUA; outros se livram da perseguição simplesmente se alistando no Partido Fascista ... A Máfia é tratada como um inimigo do regime fascista. É isso que desperta o interesse do serviço secreto da Marinha do EUA e provoca aquele encontro com Lucky Luciano, na prisão de Great Meadows.

O governo americano certamente agiu acordo coma crença de que “quem é inimigo do meu inimigo, é meu amigo” – um erro, como se constatou depois. No dia 15 de julho de 1943, um avião joga um pequeno paraquedas com um lenço amarelo com a letra L em preto . O lenço é entregue a Don Calogero Vizzini, o Don Calo, capo de Villalba. Era o sinal de Lucky Luciano.

Don Calo manda, então, uma mensagem a outro capo, Don Genco Russo, da cidade de Mussomeli, no Sul da ilha. Os mafiosos sicilianos facilitam o avanço das tropas anglo-americanas de Villalba a Palermo, conquistada em menos de 48 horas. A ação principal da Máfia foi fomentar deserções entre as tropas italianas - uma tática usada na I Guerra Mundial (1914-1918), mas com mais sucesso que na II Guerra, porque a Máfia espalhou um boato de que os sicilianos convocados seriam castrados logo que se apresentassem nos quartéis, em Roma...

A Máfia de volta ao poder

A atuação dos amigos de Lucky Luciano diminui o número de mortos entre as tropas aliadas, porque a resistência italiana na Sicília é enfraquecida pela ação dos mafiosos. Mas o preço pago é alto, porque, depois do fim do domínio do governo italiano sobre a ilha, os mafiosos passam a ocupar altos postos na administração implantada pelos tropas de ocupação. Um dos primeiros a chegar a Villalba é o ítalo-americano Damia Lumina, um conhecido assassino da famiglia de Lucky Luciano. Junto com ele, vêm muitos outros bandidos dos EUA: Giovano Caputo, Marcello di Carlo, Antônio Chifalo, Joe Pici , Antônio Schullaci e Vicente Collura.

Dois deles – Collura e Lumina – são nomeados conselheiros do quartel-general americano na Sicília. No dia 22 de julho de 1943, Don Calogero Vizzini é confirmado no cargo de presidente da Câmara de Villalba, com poderes totais em toda a região. Os gangsters assumem de fato o controle da ilha, com acesso aos depósitos americanos e usam os caminhões do Exército dos EUA para reorganizar o mercado negro. Ou seja: por causa da II Guerra Mundial, a Máfia siciliana conseguiu vencer Mussolini.

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E Lucky Luciano?

O governo do EUA cumpre o trato com Lucky Luciano. Em fevereiro de 1943 - antes mesmo da invasão da Sicília - o advogado dele, George Wolf, pede a anulação dos julgamentos em que o mafioso fora condenado. A Justiça americana comete, então, um absurdo jurídico: transforma uma pena de 30 a 60 anos (32 condenações por exploração da prostituição) em nove anos e seis meses – exatamente o tempo que Luciano já passara preso.

Em fevereiro de 1946, Luciano é deportado para a Itália, onde passa a viver tranquilamemte. Um bom tempo depois, em janeiro de 1962, o mafioso vai ao aeroporto de Nápoles esperar um produtor de cinema americano interessado em fazer um filme sobre a sua vida. Ao estender a mão para cumprimentá-lo, o mafioso sofre um ataque cardíaco fulminante, e morre.