Cultura e Entretenimento

Zumbi dos Palmares tinha escravos

Mandava capturar escravos de fazendas vizinhas para que eles trabalhassem forçados no Quilombo dos Palmares

Zumbi é considerado um símbolo da democracia, liberdade e direitos iguais entre as raças. Porém, até aonde isso é verdade? Com toda certeza, aquilo que nos ensinam na escola não representa em nada a verdade.

Zumbi estava longe de ser um herói da democracia. “Mandava capturar escravos de fazendas vizinhas para que eles trabalhassem forçados no Quilombo dos Palmares. Também sequestrava mulheres, raras nas primeiras décadas do Brasil, e executava aqueles que quisessem fugir do quilombo”. A vocação para o poder de Zumbi vinha de família. Ele descendia dos imbangalas, considerados os “senhores da guerra” na África Centro-Ocidental. Ou seja, nada mais natural que se considerasse no direito de ter seus próprios servos.

Zumbi tinha uma legião de escravos negros ao seu serviço. E hoje é o símbolo da liberdade racial. A realidade é que o seu propósito era construir seu próprio reinado e toda aquela historinha para boi dormir que nos contaram apenas serviu para criarem um símbolo, um mártir, que fosse suficientemente forte ao olhar do público para representar a causa.

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A tese, que coloca em xeque a figura do herói nacional que liderava a supostamente igualitária comunidade de Palmares, na qual negros eram livres ainda no Brasil colônia, é polêmica. Mas Narloch tenta mostrar que se trata de um dado óbvio, afinal, segundo ele, Zumbi – que pode ter se chamado Zambi – viveu no século 17, época em que era comum um líder ter escravos, sobretudo um líder de um povo africano. Além do mais, a noção de que todos deveriam ser tratados da mesma maneira, que surge no final do século 19 na Europa, parece – de acordo com o livro – não estar presente na mata do Alagoas quase um século e meio antes.
O jornalista explica que, em Palmares, eram livres apenas os negros que optaram por viver no quilombo. Escravos capturados pelos moradores de Palmares em tribos vizinhas permaneciam escravos. “Os escravos que, por sua própria indústria e valor, conseguiam chegar aos Palmares, eram considerados livres, mas os escravos raptados ou trazidos à força das vilas vizinhas continuavam escravos”, afirma Edison Carneiro no livro “O Quilombo dos Palmares”, de 1947.
Finalmente, Narloch afirma que a imagem do líder Zumbi e a de Palmares, como são conhecidas hoje – e que talvez não correspondam ao real-, são representações surgidas em 1950-1960 e construídas por historiadores marxistas como Décio Freitas, Joel Rufino dos Santos e Clóvis Moura.

De acordo com Ronaldo Vainfas, "É uma mistificação dizer que havia igualdade em Palmares", afirma o historiador. Ele ainda diz que Zumbi e os grandes generais do quilombo lutavam contra a escravidão de si próprios, mas também possuíam escravos. No século XVII, época em que os ideais de liberdade e igualdade ainda não haviam sido consolidados na Europa, não seria possível que, entre os negros, tais conceitos fossem a força e ideal da formação dos quilombos e das atividades de Zumbi.