O Código da Vinci
de Luiza Costa
Quem já leu o Código da Vinci provavelmente está perplexo com as afirmações feitas no livro. Quem ainda não leu, recomendo que não leia esta matéria a fim de não estragar o prazer de ler o livro, que sem dúvida nenhuma, apesar de todas as críticas, é muito bom, excelente por sinal. Devo confessar que devorei as quatrocentas e tantas páginas em apenas dois dias e fiquei absolutamente perplexa diante das revelações do livro. Tanto que até hoje tenho lido milhares de outros textos e livros sobre os Templários, Maria Madalena, o Santo Graal e as pinturas de Leonardo, especialmente A Última Ceia e a Madonna das Rochas. Comecei a tentar desvendar até que ponto Dan Brown nos revela verdades ou mentiras em seu livro. Cheguei à óbvia conclusão de que não há verdade absoluta, e que cada um de nós irá chegar a conclusões diferentes, pois acredito que tudo, no final das contas, é uma questão de fé.
Quem foi Maria Madalena? Maria Madalena, segundo o imaginário de todos nós era uma prostituta arrependida que passou a seguir Jesus. Dan Brown afirma em seu livro que Maria Madalena pertencia a uma linhagem real da dinastia de Benjamim e que tinha um caso, mais especificamente, era casada com Jesus. Apóia a sua teoria nos evangelhos gnósticos, na pintura de Vinci A Última Ceia, em lendas, livros sobre o tema e nos recentes “Dossiês Secretos”. Segundo o evangelho de Filipe, Maria madalena era a companheira de Jesus, ele a beijava na boca com freqüência e a amava mais do que a todos os apóstolos. Segundo alguns historiadores e o próprio Dan Brown, a palavra companheira, na época significa exatamente esposa. É claro que nem todos concordam a respeito disso. Há quem defenda que pode significar apenas parceira, mas o que quer que seja, revela que Jesus e Maria tinham um relacionamento próximo. “Ele a beijava na boca com freqüência”. Bem, se o que está escrito é verdade, devemos considerar essa atitude um tanto quanto bizarra. Na época as mulheres (judias) nem sequer tocavam um homem que não fosse seu marido. Mas existe um problema nessa afirmação. Os documentos são extremamente velhos e estão extremamente danificados. Historiadores afirmam que há um buraco onde estaria escrito “boca”. Há espaço para algumas palavras como “pé”, “bochecha”, “testa”, enfim, não se pode saber ao certo onde Jesus a beijava. Mas que beijava, beijava. Outros evangelhos do gênero revelam o quanto Simão Pedro tinha ciúmes de Madalena. Ele como primeiro apóstolo sentia-se ameaçado pela preferência de Jesus a Maria. A partir dos apócrifos, acredita-se que Jesus, na verdade, deu a Maria Madalena a função de edificar e dar continuidade à sua igreja, e não a Pedro. Mas que bomba, não? Imagina, uma mulher exercendo um papel importante como esse?? Talvez, para o cristianismo Maria devesse ser a figura mais importante (claro, depois de Jesus). Isso não podia acontecer.
Deveria ser abafado. A Igreja Católica é essencialmente masculina. As funções mais importantes só podem ser exercidas por homens. O papa é homem, bispos são homens, Deus é uma figura masculina, Anjos são homens, Jesus era homem, A mulher vem de uma costela do homem, a mulher levou o homem ao pecado. Segundo Gênesis, as mulheres devem se submeter a seus maridos!! Sofremos no parto a fim de pagar nosso pecado cometido ao induzir o homem ao erro. Mulheres não podem nada, homens podem tudo. Agora é que os hábitos da sociedade vêm mudando um pouco. A corrente feminista vem ganhando força, batendo de frente com este machismo pré histórico.
Agora gostaria de tocar num ponto muito importante. De onde surgiu a premissa de que Madalena é prostituta? Não sei qual o documento que contém essa afirmação. Mas com toda a certeza, não é a Bíblia Quando terminei de ler o livro de Dan Brown não tinha parado pra pensar nisso, estava mais interessada em ler sobre os quadros de da Vinci. Não sei o porque exatamente, mas alguma coisa me chamou a atenção para essa questão. Resolvi averiguar de que forma a Bíblia a denuncia como prostituta, e para a minha surpresa, isso não acontece em momento algum. No filme Paixão de Cristo, Mel Guibson afirma que Madalena é a tal mulher que iria ser apedrejada, mas após dita a famosa frase “quem não tem pecado que jogue a primeira pedra”, é absolvida por todos. Guibson mostra essa mesma mulher no momento da crucificação, exercendo um dos papéis principais do filme ao lado de Maria mãe de Jesus. Isso significa que só pode ser Maria Madalena. Mas a tal adúltera é anônima. A Bíblia sequer nomeia esta mulher. Madalena foi associada a ela assim como a muitas outras da Bíblia, como Maria de Betânia e outras Marias. Há quem pense que foi ela quem ungiu os pés de Jesus com suas lágrimas e os secou com seus cabelos.
É importante frisar o que é dito na Bíblia sobre Madalena: É dito que Jesus expulsou dela sete demônios (Marcos 16,9), (Lucas, 8,2) , que ela era uma de suas seguidoras (Lucas, 8-2), que foi a primeira a quem Jesus apareceu após ressucitar (Marcos 16,9) (João 20,11), Madalena, assim como outras, servia Jesus com seus próprios recursos/bens (Lucas 8,3). Só Isso é o que é dito sobre ela na Bíblia. Analisando esses poucos dados, podemos avaliar de forma mais sensata seu papel diante de Jesus.
Jesus expulsou dela sete demônios. O que isso significa? Na época, devido ao pouco conhecimento científico, não se sabia muito a respeito de doenças. O fato de ele ter expulsado dela 7 demônios, pode significar que a curou de doenças, pois eram consideradas demoníacas. Como sempre, tudo o que não se conhece, se teme. Essa é uma suposição, não estou dizendo que é a verdade, mas faz sentido. Mas, o que quer que isso signifique, não foi por isso que Maria ganhou a fama de prostituta.
Madalena serviu Jesus com seus próprios bens. Talvez isso signifique que Madalena era uma mulher de posses, que custeou (junto com outras mulheres) a missão de Jesus.
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Madalena foi a primeira a ver Jesus ressucitado e a quem ele ordenou que espalhasse a notícia aos outros. Ora, isso faz dela uma mulher importante! Ou será que ser a primeira a receber a mensagem de Jesus é pouca coisa?? Margaret Starbird afirma que a Bíblia nos diz que Madalena tinha um relacionamento amoroso com Jesus. Basta saber lê-la. No momento que que Maria vê Jesus ressucitado, tanta tocá-lo, e Jesus pede para que ela não faça isso, pois ainda não subiu ao seu Pai. Segundo Margaret, isso denuncia que ela deveria ter um relacionamento íntimo com Jesus, afinal, como já foi dito antes, naquela época não havia contato físico entre homens e mulheres a não ser que fossem casados. Outros historiadores dizem que esse ato não revela de forma alguma qualquer relacionamento íntimo entre os dois. Que devido à grande surpresa e felicidade, teve o impulso de tocá-lo, reação perfeitamente normal.
Madalena é pouco citada na Bíblia, mas seu papel nos evangelhos gnósticos é muito mais relevante. Ela mesma possui um evangelho.
A origem do erro
Mas porque afinal das contas sua imagem foi confundida, ou melhor fundida com a de outras mulheres dos evangelhos canônicos? Isso tudo foi culpa do papa Gregrório I, que em 591 d.c. resolveu fundir a imagem das diversas Marias a fim de facilitar a compreensão da história. Isso significa que a culpa, na verdade é da Igreja Católica, obviamente. Tanto que em 1969 a Igreja reconheceu oficialmente o erro, que não há indícios concretos na Bíblia que nos leve a crer que Madalena era uma prostituta. Parece que de nada adiantou, pois até hoje é ensinado nas Igrejas que Madalena era prostituta.
Que fique claro que essa fundição de personagens ocorreu apenas na Igreja Ocidental. No Oriente não ocorre essa confusão de papéis, Maria de Betânia e Maria Madalena são pessoas diferentes.
OBS: Aliás, no Cristianismo do oriente, tanto padres católicos como ortodoxos podem se casar.
O Concílio de Nicéia
O Código da Vinci nos diz que Constantino, em 325 d. C., na Turquia convocou o Concílio de Nicéia com o objetivo de modificar o Cristianismo a fim de deixá-lo mais poderoso e eficientemente ajustado aos seus propósitos. Jesus, até então, era considerado um mortal, e torná-lo um ser divino seria muito útil. Segundo Brown, a divindade de Jesus foi decidida na base da votação. Isso é um tanto quanto perturbador, mas se pararmos para pensar, não faz muito sentido. Quer dizer, que até o ano 325, os bispos pregavam apenas a sabedoria de um homem inteligente? É claro que não. Nas cartas de Paulo, datadas de 50 d. C. até 95 d. C., encontramos um padrão consistente de descrições de Jesus como um ser humano, em quem deus residia em total unicidade.
Mas existem algumas coisas bastante significativas citadas no livro, e que fazem bastante sentido. Na época de Constantino, a religião oficial era o culto de adoração ao Sol, o culto do Sol Invictus, e Constantino era o sumo sacerdote. Mas para seu azar, os seguidores de cristo multiplicavam-se exponencialmente. Os cristãos e pagãos começaram a lutar entre si, ameaçando dividir Roma ao meio. No ano 325, Constantino resolveu unificar Roma sob uma única religião, o Cristianismo (apostou no cavalo que estava vencendo).
Para facilitar a aceitação do Cristianismo, ele fundiu datas, símbolos, rituais pagãos com a religião cristã em ascensão, criando uma religião Híbrida. Nada é original do Cristianismo.
“O Deus pré-cristão Mitras – chamado Filho de Deus e a Luz do Mundo- nasceu no dia 35 de dezembro, foi enterrado em um sepulcro de pedra e depois ressucitou em três dias. Aliás, o dia 25 de dezembro é também o dia de celebrar o nascimento de Osíris, Adônis e Dionísio. O recém-nascido Krishna recebeu outro, incenso e mirra.” Pg. 259 CDV
Até mesmo o dia de adorar à Deus foi roubado dos pagãos. Domingo em inglês é Sunday, Sun Day, dia do sol. Os discos solares egípcios viraram argolas de anjos. Os pictogramas de Ísis dando o seio a seu filho Hórus milagrosamente concebido tornaram-se base para nossas modernas imagens da Virgem Maria com o menino Jesus no colo. O Tridente de Poseidon tornou-se o tridente do Diabo.
Para termos uma idéia da manipulação da Igreja é só pararmos para analisar o termo “Vilão”. O que é vilão para nós. É o malvado da história, certo? Mas a palavra vilão, significa “da vila”. Na época, os pagãos moravam nas vilas e seus cultos eram extremamente ameaçadores para a cristandade. Não preciso dizer mais nada.
É por essas e outras que devemos avaliar com cuidado o que faz e o que não faz sentido. Realmente, não faz sentido que a divindade de Jesus tenha sido decidida na base da votação. Mas analisem a base das tradições da fé cristã! Fica bastante difícil chegar a uma opinião definitiva, pra não dizer impossível.
O Santo Graal
A lenda do santo Graal é bastante conhecida e tema de muitos filmes, inclusive Indiana Jones. A lenda mais conhecida nos diz que o Santo Graal é o cálice utilizado por Jesus durante a última ceia, quando é estabelecida a Eucaristia. Ele oferece a taça aos seus discípulos dizendo “Este é o meu sangue”.
O que Dan Brown nos diz (assim como outros escritores já haviam dito) é algo bastante perturbador. Ele alega que na verdade, o Santo Graal não é um objeto, e sim uma pessoa. O fato de ser considerado um cálice, é na verdade uma metáfora.
Antigamente, os símbolos de feminino e masculino não correspondiam à espada e o escudo para o masculino, e ao espelho para o feminino. Eram, na verdade, bastante simples. O masculino era representado por um falo rudimentar /\ , e o feminino, exatamente o oposto \/, a representação de um útero, ou seja, um cálice.
O Cálice com o sangue de Cristo seria uma metáfora para um útero, que teria sido supostamente fecundado por Jesus. Esse útero conteria a linhagem de sangue de Jesus. E a mulher em questão, seria Maria Madalena.
O Santo Graal, é, segundo o Código da Vinci, a prova de que Jesus casou-se com Madalena, e deixou descendentes. É na verdade, o túmulo de Madalena, e junto a seus ossos estão uma série de documentos secretos que são capazes de destruir todo o fundamento da Igreja Cristã.
Isso é apenas uma teoria, não há provas concretas que possam confirmar essas afirmações. Mas também não há como provar que estão erradas.
Como Brown diz, a história é escrita pelos vencedores. Isso, nós sabemos que é verdade. É por isso, que ninguém tem como saber com certeza o que foi que aconteceu exatamente na vida de Jesus. É certo que ele existiu, mas a história de sua vida, assim como sua aparência física e local de nascimento, permanecem um mistério.
O Priorado de Sião
Na primeira página do livro O Código da Vinci, Brown afirma que o Priorado é uma sociedade secreta européia fundada em 1099 e que existe de fato.
Para comprovar a existência dessa sociedade Brown cita os pergaminhos conhecidos como “Dossiês Secretos” descobertos pela Biblioteca Nacional de Paris em 1975. De fato esses documentos foram de fato descobertos, mas algumas pessoas defendem a tese de que podem ter sido fraudados, não se pode ter certeza da origem de tais pergaminhos.
Segundo o livro, esta sociedade é formada pelas famílias descendentes de Jesus Cristo e Madalena e foi criada para garantir a sua sobrevivência, pois corriam constante perigo em virtude do medo da Igreja de que o mundo descobrisse a verdade. Entre os grãos mestres dessa sociedade estariam Sir Isaac Newton e Leonardo da Vinci.
Brown diz que os membros da família real merovíngia, descendentes do casal Jesus e Madalena, fundaram a cidade de Paris. Isso não aconteceu. Paris foi fundada por uma tribo celta de gauleses chamada Parisii no século terceiro a. C. O que os merovíngios fizeram foi tornar Paris a capital do império frâncico em 508 d. C.
Leonardo da Vinci - A Última Ceia
Leonardo, como suposto membro do Priorado de Sião, sabia de toda a verdade. Mas, obviamente não podia falar sobre isso abertamente.
Por isso, deixou pistas em suas pinturas, para os que têm olhos verem.
A principal pintura é a Última Ceia (feita na parede de um refeitório de um mosteiro em Milão). Esta pintura trata do momento em que Jesus anuncia a seus discípulos que será traído, e ainda por cima, sabe quem é o traidor. Além disso, faz parte desse mesmo momento a instituição da Eucaristia, já que foi durante esta última ceia que Jesus anunciou traição.
Bem, sabendo disso, podemos imaginar o que encontraremos na pintura de Leonardo. Jesus sentado à mesa com os 12 apóstolos, estes por sua vez em estado de choque, pães e um cálice. Mas não é isso que observamos na pintura.
Primeiro que não há um cálice, e sim algumas tacinhas de vidro bem miudinhas, assim como os pedaços de pão. Bem, a grande questão é: Leonardo esqueceu do cálice de cristo?? Do Santo Graal? A Teoria da Conspiração afirma que o Graal está lá, ao lado de Jesus. No lugar onde deveria estar sentado o apóstolo João, encontra-se Maria Madalena.
De fato, podemos observar que as feições do indivíduo são incrivelmente femininas.Além disso está vestido com as cores inversas às cores de Jesus. Jesus está de vermelho com um manto azul, enquanto “Madalena”está de azul com um manto vermelho. Podemos notar também que estão unidos pelas mãos enquanto suas cabeças se afastam, formando um perfeito \/, o símbolo do cálice, do feminino.
Podemos notar também que, enquanto todos os discípulos estão gesticulando, espantados, “discutindo”, Jesus e “Madalena”, parecem estar em outro planeta, calmos, serenos, alheios ao que está se passando na mesa.
Alguns estudiosos, como Amy Welborn, dizem que é um absurdo acreditarmos que trata-se de uma mulher no lugar de João. Na verdade trata-se de um rapaz muito jovem, da figura do Estudante, um rapaz de barba feita e traços finos, mas definitivamente um rapaz.
Bem, eu tenho as minha dúvidas.
Há um outro elemento um tanto estranho no quadro. Brown diz que há uma “mão”sem dono segurando uma faca. De fato há a faca, mas é bastante óbvio que é Pedro quem a segura. O porque dessa faca, eu realmente não sei. Segundo Bruce Boucher, em um artigo datado de 3 de agosto de 2003, no New York Times, “...além do que, essa mão não é desprovida de corpo. Tanto um esboço preliminar feito por Leonardo quanto as primeiras cópias de A ültima Ceia mostram que a mão e o punhal pertencem a Pedro – uma referência a uma passagem no Evangelho de São João em que Pedro brande uma espada em defesa de Jesus”. Segundo Brown, a faca seria uma ameaça a Madalena, pois Pedro está visivelmente olhando para ela com indignação. Realmente Pedro está indignado, sua expressão é de raiva e a faca não parece estar ali para defender Jesus.
Segundo Leonardo, cada apóstolo representa um signo do horóscopo. Judas, que está do lado esquerdo de “Madalena” é o signo escorpião. Derruba o sal, símbolo da morte, pois esterilizava o solo. Segura um saco de dinheiro, o que significa que era o tesoureiro de Jesus. Está posicionado de forma a observar com cautela, com olhos e ouvidos atentos. “Madalena/João” representa Libra, e por isso tem uma expressão calma, denotando equilíbrio. Seus braços cruzados formam o prato da balança. Pedro seria Sargitário, signo que busca a sabedoria, por isso olha fixamente para Jesus. A faca representa a defesa pelos seus ideais. Simão é Áries, Judas Tadeu é Touro, Mateus é Gêmeos, Felipe é Câncer, André é Capricórnio, Tiago Menor é Leão, Tiago Maior é Aquário e Tomé é Virgem ( Tomé é o que aponta, denotando que aponta o erro, mas está escondido, pois não quer ser apontado. Enxerga o erro dos outros, mas não suporta ouvir críticas).
Enfim, existem diversas explicações para o comportamento e a aparência dos apóstolos nesta cena. Cabe a cada um acreditar na que lhe pareça mais convincente.
Leonardo da Vinci - A Mona Lisa
Dan Brown nos diz que Leonardo deixou algumas pistas neste quadro para que decifremos o porque de seu sorriso zombeteiro.
A Mona Lisa é muito maior vista da esquerda para a direita do que da direita para esquerda. Se observarmos a paisagem ao fundo do quadro é completamente irregular. Parece de que do lado direito a mulher há uma paisagem diferente da do lado esquerdo. Isso causa esse efeito. O propósito de valorizar o lado esquerdo seria fazer uma alusão ao “sagrado feminino”. O lado esquerdo antigamente era considerado o feminino, e o direito o masculino. Estranhamente hoje em dia esquerdo é sinônimo de algo ruim, e direito é sinônimo de justeza, da lei, do certo, correto.
O nome do quadro daria a pista mais relevante em relação ao mistério que envolve o quadro: Mona seria o anagrama de Amon, o deus da fertilidade masculina e Lisa, na verdade é Ísis, a deusa egípcia da fertilidade, cujo pictograma antigo era L’Isa. Isso significa que a Mona Lisa é a união do masculino com o feminino, um ser andrógino, e por isso ela é tão estranha.
Mas existe um sério problema que descarta totalmente essa última teoria. Leonardo não deu nome ao quadro. Nem ao menos o mencionou
em nenhum de seus cadernos, embora não haja dúvidas que a obra seja dele. O retrato é identificado como Mona Lisa pelo primeiro biógrafo de Leonardo, Giorgio Visari, umas três décadas após a morte de Leonardo.
Leonardo da Vinci - A Madonna das Rochas
Há duas versões para esse quadro, uma no Louvre (a primeira encomenda) e outra na National Gallery em Londres.
Leonardo recebeu primeiramente a encomenda para pintar esse quadro como parte de um tríptico para a capela de um grupo chamado Confraria da Imaculada Conceição. Brown declara que essa irmandade era formada por um frupo de freiras. Uma “confraria”, particularmente nessa época, era um grupo de homens que se organizava com um objetivo, nesse caso de promover a crença na Imaculada Concepção de Maria (o ensinamento de que Deus havia preservado Maria do pecado original desde o começo da sua vida).
O quadro deveria retratar um acontecimento não mencionado nos evangelhos, a história de como, durante a fuga para o Egito, José, Maria e o menino Jesus haviam procurado abrigo numa caverna abandonada, onde encontraram o pequeno João Batista, o protegido do arcanjo Uriel. A importância dessa lenda consiste em ter oferecido uma solução para uma das qustões mais óbvias e embaraçosas suscitadas pelo relato do batismo de Jesus nos Evangelhos. Porque um Jesus supostamente imaculado precisaria ser batizado, uma vez que esse ritual é um gesto simbólico da lavagem dos pecados e do compromisso com a bondade a partir daquele momento? Por que o filho de Deus deveria se submeter ao que era nitidamente um gesto de autoridade da parte de João Batista?
A lenda conta como, nesse encontro entre as duas crianças, Jesus conferiu ao seu primo João a autoridade para batizá-lo quando os dois fossem adultos.
O quadro pintado por Leonardo foi bastante diferente da encomenda, o que chegou a azedar as relações entre a entidade e o artista e culminou num processo que se arrastou na Justiça por mais de vinte anos.
Primeiro Leonardo resolver cortar a presença de qualquer personagem não ligado ao episódio, como gordos querubins e profetas fantasmagóricos. Mas parece que o número de personagens foi excessivamente cortado, pois nem José aparece na tela.
A versão do Louvre, que foi pintada primeiro mostra uma Virgem com uma túnica azul passando o braço, num gesto protetor, em torno de uma das crianças, enquanto a outra é mostrada ao lado de Uriel. Curiosamente as duas crianças são idênticas. Porém, mais estranho ainda é o fato de o menino com o anjo estar abençoando o outro, enquanto a filho de Maria se ajoelha, mostrando subserviência. Isso levou historiadores a acreditarem que, por algum motivo, Leonardo optou por deixar o pequeno João com Maria.
Afinal, não há nenhum rótulo que identifique esses pernosagens, e parece claro que a criança com autoridade para abençoar é Jesus.
Talvez a semelhança entre as crianças sugira que ele tenha confundido suas identidades de modo proposital por razões que lhe convinham. Embora Maria esteja, com a sua mão esquerda, envolvendo a criança geralmente identificada como João, a sua mão direita está esticada sobre a cabeça de “Jesus” num gesto que parece ser de inequívoca hostilidade – algo que Serge Bramly (historiador da arte) descreve como “semelhante a garras de uma águia”. Uriel está apontando para o outro lado, na direção da criança abraçada por Maria, mas está também, e de modo significativo, olhando para quem observa o quadro, desviando o olhar da Virgem e da criança.
E se a criança com Maria, na versão do Louvre, for Jesus, e a criança com Uriel, João? Nesse caso, é João que abençoa Jesus e Uriel evita até mesmo olhar para ele. Maria, ao proteger o filho, põe a mão de modo ameaçador sobre a cabeça de João. Vários centímetros bem abaixo da palma aberta da mão dela, a mão de Uriel faz um corte direto com o dedo indicador, como se os dois gestos compreendessem um misterioso sinal. Ë como se Leonardo estivesse indicando um objeto, alguma coisa importante, porém invisível, devesse preencher o espaço entre as duas mãos.
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No entanto, quando observamos a bastante posterior versão do quadro exibida na National Gallery, descobrimos que estão faltando todos os elementos que sugerem essas deduções de conteúdo herético – mas apenas esses elementos. As duas crianças têm aparências bastante diferentes, e a que está com Maria ostenta a tradicional cruz com uma haste comprida associada a João Batista. A mão direita de Maria permanece esticada sobre a outra criança, mas o gesto não expressa nehuma ameaça. Uriel não está mais apontando para o menino e nem desviando o olhar da cena. É como se Leonardo estivesse nos convidando a reparar na diferença.
Lynn Picknett tem um olhar ainda mais ousado sobre essa pintura. “Surgindo de trás da cabeça da Virgem, há duas magníficas“pedras”masculinas – encimadas por um falo maciço que aponta para o próprio céu, abrangendo nada menos do que a metade da pintura. O objeto ofensivo é criado a partir da massa de pedra, mas ainda assim é facilmente perceptível, e até mesmo enfeitado de modo desapudorado com um pequeno jato de ervas... sem dúvida ele criou deliberadamente aquele grotesco membro masculino perversamente inspirado na confraria que o contratou. Com um pênis gigante crescendo a partir da sua cabeça, ele está claramente dizendo “para aqueles com olhos pra ver”que aquela não é nenhuma Virgem”.
Conclusão
Enfim, acredito que não possamos chegar a conclusão nenhuma. Mas definitivamente devemos parar para pensar que nada é inquestionável, nem mesmo a fé.