Oliveira, Marcoso

Quando o famoso físico o inglês
Stephen Hawking, referindo-se à probabilidade do
acaso ter formado nós e o universo, escreveu em seu
livro "Uma breve história do tempo" a frase: "... É
um pouco como aqueles bandos de macacos martelando
em máquinas de escrever - a maior parte do que
escreverem será lixo, mas muito ocasionalmente, por
puro acaso, eles irão datilografar um soneto de
Shakespeare", logo devemos imaginar de que acaso ele
poderia estar falando.
Certamente este acaso a que ele se refere nada tem a
ver com o acaso que leva em conta a Lei das
Probabilidades.
Exemplifiquemos: se pegarmos 10 cartões enumerados
de 0 a 9 e, aleatoriamente, e tentarmos tirar o
número 3 teremos, então, a probabilidade de uma
chance em dez (1x10¹) para acertar. Se agora
pegarmos 100 cartões numerados de 00 até 99 e
tentarmos achar o mesmo número 3, então as nossas
chances saltarão para uma em 100 (1x10²). Isto é
probabilidade para um sistema de base 10.
O nosso alfabeto tem 26 letras, ou seja, é um
sistema de base 26. Assim teríamos uma chance em 26
para acertarmos a escolha de uma determinada letra.
Se alguém escreve uma palavra com 2 letras apenas e
pede a outra para tentar advinhar, então teremos a
probabilidade de 1 para 26x26 ou 1x26², que seria
676. Com uma palavra de 3 letras as chances iriam
para 1 em 26³ (uma em 17.576).
Voltemos ao enunciado de Stephen Hawking. Os sonetos
de Shakespeare são todos mais ou menos do mesmo
tamanho (cerca de 14 linhas que utilizam algo entre
450 e 500 letras). Consideremos 450 letras por
soneto. A probabilidade de alguém, aleatoriamente,
datilografar um soneto com 450 letras seria uma em
26. Se utilizarmos um sistema de base 10 teremos uma
chance em 5x10636. Trata-se do número 5 seguido de
636 zeros! A enormidade de escala deste número pode
ser percebida se considerarmos que desde o Big Bang
(a explosão inicial que deu origem ao Universo), há
15 bilhões de anos, só se passaram 4,7x1017 segundos
(1 hora = 3.600 segundos; 1 dia = 24x3.600 = 86.400
segundos; 1 ano = 365x86.400 = 31.536.000 segundos;
15 bilhões de anos = 15.000.000.000x31.536.000 =
473.040.000.000.000.000 segundos ou seja 4,7x1017
segundos).
Chegamos a conclusão que para escrever ao acaso um
dos sonetos de Shakespeare, seriam necessários todos
os macacos e mais todos os animais da Terra
datilografando em máquinas de escrever feitas com
todo o ferro existente no Universo ao longo de um
período que excede em muito o tempo desde o Big Bang,
e ainda assim a probabilidade do soneto surgir seria
incomensuravelmente pequena.
No livro intitulado The origin of life, de 1954, o
renomado prêmio Nobel e bioquímico George Wald
afirma textualmente que "O próprio tempo realiza os
milagres. O tempo é, na realidade, o herói da
história".
Em 1968, o professor Harold Morowitz, um físico da
universidade de Yale, nos Estados Unidos, publicou o
livro "Energy flow in biology". Neste livro, ele e
outros físicos e matemáticos demonstravam suas
preocupações com a displicência com que alguns
cientistas, ocupados em estudar a origem da vida,
vinham pressupondo a ocorrência de eventos altamente
improváveis. Eles contestavam afirmações tais como
as de George Wald, que diziam ser a vida um produto
inevitável da química, que basta esperar para que os
eventos aleatórios aconteçam.
Morowitz e sua equipe apresentaram cálculos (como os
que fizemos acima) do tempo necessário para que
reações químicas aleatórias formassem uma bactéria -
não um organismo vivo complexo, mas apenas uma
simples bactéria. Baseando seus cálculos numa taxa
otimista da velocidade das reações, o tempo estimado
para uma bactéria se formar excede não apenas os 500
milhões de anos da primeira bactéria fóssil
encontrada, mas também os 4,5 bilhões de anos da
idade da Terra e, também, dos 15 bilhões de anos de
idade do Universo inteiro.
Para exemplificarmos mais uma vez, uma molécula de
DNA (material genético encontrado em todas as
células vivas já analisadas) contém proteínas,
formadas por 20 tipos diferentes de aminoácidos. A
probabilidade de duas cadeias idênticas de proteína,
cada uma com 100 aminoácidos, duplicarem-se por
acaso é uma em 20100 - o mesmo que 10130. Isto quer
dizer que para se atingir as condições de
probabilidade de uma proteína ter se desenvolvido
por acaso, seria preciso que 10130 tentativas fossem
efetuadas a cada segundo desde o início dos tempos.
Lembremos que desde o Big Bang passaram-se somente
4,7x1017 segundos. Ainda mais, para se realizar
essas tentativas concomitantes, o material para
alimentar as reações consumiria 1090 gramas de
carbono. Mas a massa total da Terra (todos os
elementos juntos) é apenas 6x1027 gramas! Na
realidade, 1090 gramas excede em muitos bilhões de
vezes a massa total estimada de todo o Universo.
Stephen Hawking está correto quando afirma que,
considerando-se a probabilidade, a maior parte das
tentativas é puro lixo (tome como exemplo um simples
jogo de Loteria). Biólogos, físicos, químicos,
astrônomos, enfim a ciência moderna é quase unânime
quando, baseados em estudos, afirmam que do
princípio do Big Bang até hoje, as milhares de
milhões de reações aconteceram do jeito certo, no
momento certo e com as condições exatas para que
ocorressem, isto não é acaso. Vimos que,
considerando o puro acaso, não haveria tempo hábil
nem para a formação de uma única bactéria, imagine
algo tão complexo quanto o corpo humano.
O Prêmio Nobel Francis Crick, em 1973 afirmou que a
vida é tão complexa que a sua semeação na Terra pode
ter sido essencial para ela iniciar-se aqui. E o
cientista Frad Hoyle, em 1978 fala que essa
semeadura tem de ter ocorrido, e que foi realizada
por uma superforça ou por força divina.
Mesmo se considerássemos o acaso e suas
probabilidades falhas, teríamos, conforme Stephen
Hawking, que encontrarmos milhões de fósseis lixo. E
não é o que ocorre. Encontramos uma seqüência
cadenciada, ordenada e interrelacionada entre si. As
espécies formam um todo homogêneo, uns dependendo
dos outros na cadeia alimentar. Não há absolutamente
nada no lugar errado nem no Cosmos nem na Terra.
Mas alguém poderia indagar: e as pestes, os vírus e
as bactéria letais? Se colocarmos a cabeça no lugar
e analisarmos desapaixonadamente, veremos que tudo
isto só atingiu o desequilíbrio quando o Homem
torna-se consciente e interage com a Natureza, quer
como colaborador, quer como agente destrutivo.
Não estamos aqui querendo desacreditar das teorias
científicas para o surgimento do Universo e da vida,
não. Os fósseis estão aí e são incontestáveis sua
veracidade. A não ser que o fanático religioso, para
negá-los, diga que são apenas frutos de uma
brincadeira de mau gosto do Criador, que os colocou
estrategicamente em locais para nos confundir.
A teoria atual mais aceita e comprovada pelas
últimas descobertas da ciência é a que fala de um
Big Bang seguido de evolução (tanto do Universo
quanto da vida) com saltos. Esta teoria nos diz que
de tempos em tempos houve intervenções externas que
possibilitaram chegarmos ao estágio atual do
Universo e do homem. A nós, um Big Bang seguido de
uma expansão do Universo, deixa claro que houve um
princípio, o que, no mínimo, tem lugar para um
Principiador. Diríamos mais: é necessária a
existência de uma força inteligente no princípio e
em todos os momentos do Universo.
A vida surgiu na Terra quase que imediatamente após
o seu resfriamento completo, o acaso não teria tido
tempo hábil para suas tentativas. Aqui alguém
poderia argumentar sobre a probabilidade da vida na
Terra ter tido sua origem em outro planeta, ou
galáxia.
Se nos afiliarmos a este grupo de pensadores somente
estaremos indo mais e mais fundo na improbabilidade.
Eles teriam que ter evoluído muito mais que nós (em
nosso estágio atual) para realizar a viagem
intergalática e poderem depositar aqui o princípio
da vida. Ora, se os 15 bilhões de anos do Universo
não seriam suficientes para o surgimento espontâneo
das condições de vida na Terra - que existe há 15
bilhões de anos - imaginemos isto para uma condição
de apenas 10 bilhões de anos. Nós sairíamos do campo
da improbabilidade para o campo nada científico da
incerteza. Estaríamos mais no campo da fé cega (nova
religião?) que no campo da ciência, a não ser que
tenhamos mais que 15 bilhões de anos e ai todos os
cálculos da ciência moderna estarão errados.
Mas a física, através de cálculos de tempo pela
medição da radiação isotrópica de fundo do Universo,
coloca-nos exatamente neste ponto do espaço-tempo: o
nosso Universo surgiu a 15 bilhões de anos. Mais uma
vez os céticos teóricos poderiam se transportar para
um outro Universo paralelo ao nosso. Outra vez
estaríamos entrando no campo da especulação, somente
adiando a resolução do problema.
Voltando ao nosso Universo, podemos nos indagar se o
impacto do asteróide que mudou o eixo da terra
causando a extinção dos dinossauros teria sido obra
do acaso ou era um lixo das reações em cadeia do
Universo? A ciência reconhece hoje que era
necessário o extermínio dos grandes predadores (os
dinossauros), exatamente naquela época, para que a
progênie do homem se iniciasse, sem que corressem os
riscos dos enfrentamentos e, concomitantemente, a
aniquilação dos menores. Podemos supor aqui uma
intervenção do Principiador? Cremos que sim pois foi
um ato de extrema precisão que requeria uma máxima
inteligência gerindo-o.
A inclinação do eixo da Terra propiciou-nos, ainda,
a possibilidade das 4 estações anuais, aumentando a
chance da vida que iria surgir sobre toda a sua
superfície.
Existe atualmente em quase todos os países do mundo,
grupos de renomados cientistas, filósofos e
teólogos, que reúnem-se para tentar chegar-se a um
possível consenso entre os conhecimentos da ciência
e os da filosofia e religião sobre os mistérios da
criação. O Brasil é representado pela Sociedade de
Teologia e Ciências da Religião - SOTER. Seu último
encontro deu-se em julho de 1999, em Minas Gerais,
com o tema Um olhar interdisciplinar sobre o
Universo.
Um resumo da visão destes pesquisadores foi
condensado por eles mesmos assim:
Interdisciplinaridade não é apenas um novo método,
mas uma nova mentalidade. Há hoje uma exigência de
"nova aliança" entre os diversos saberes, para um
novo salto de patamar em nosso conhecimento. Com a
exigência de novos campos do saber para dar conta da
complexidade não só da realidade, mas de nossos
conhecimentos dessa realidade, a
interdisciplinaridade é hoje um exercício e um
desafio do qual nem a ciência nem a teologia podem
se esquivar.
Sabemos que esta nova visão é tão difícil de ser
admitida tanto pelo cético científico quanto pelo
fanático religioso. Mas para o
último tornamos a dizer: os fósseis estão aí e são
incontestáveis sua veracidade. Para o primeiro,
creio que demonstramos a improbabilidade de sermos
obra do acaso.
Para ambos é oportuno o conhecimento de alguns
fatos, relegados ao proposital esquecimento. Para os
estudiosos da Bíblia no seu original na língua
hebraica, o conhecimento de todas as coisas, criadas
ou não, está oculto nos cinco Livros de Moisés,
conhecido como Pentateuco (Gênesis, Êxodos, Números,
Levíticos e Deuteronômio). Vejamos o exemplo abaixo:
No princípio do século XIV, estudantes de filosofia
e místicos espanhóis têm contato com um livro de
origem judaica entitulado de Sepher Zohar, traduzido
como Livro dos Esplendores. Este livro narra vários
diálogos entre o Rabi Shimon ben Yochai e seu filho,
e também Rabi, Eliazar, que viveram, segundo o
próprio livro, nos tempos em que Roma reinava sobre
Israel (primeiros séculos de nossa era).
Em um dos diálogos, comentado a criação do livro da
Gênesis, ele diz:
Na cabeça da autoridade do Rei. Ele talhou da
luminescência divina, uma Lâmpada de Trevas. E ali
emergiu do Oculto dos Ocultos o Mistério do Infinito
uma linha sem forma, embutida em um anel...
medida por uma linha...
Em 1175, o Rabi Nehuniah ben Hakana, escreve o
Sepher Bahir (Livro da Luz) dando ênfase ao TzimTzum
ou "A auto-constrição da Luz Divina" (constrição =
pressão circular). A explicação mais clara para o
TzimTzum pode ser encontrada nos escritos do Rabi
Itzrak Luria (1534-1572):
Antes de todas as coisas serem criadas... a Luz
Divina era simples e enchia toda a existência. Não
havia espaço vazio... Quando a Sua simples Vontade
decidiu criar todos os universos... Ele comprimiu os
lados da Luz, deixando um espaço vazio... Este
espaço era perfeitamente redondo...
Após essa compressão ter ocorrido... passou a
existir um lugar onde todas as coisas poderiam ser
criadas... Ele, então, traçou uma única linha reta
da Luz infinita... e a trouxe até aquele espaço
vazio... A Luz infinita foi trazida para baixo por
intermédio desta linha...
Curiosamente, a quase unanimidade dos grandes
descobridores das teorias científicas ou são de
origem judaica (Newton, Einstein, Kepler, etc.) ou
são estudantes de alguma ciência mística da época
(Cabala, Astrologia, Alquimia - Pasteur, casal
Curie, Sigmund Freud, etc.).
Cremos que, no momento, isto é suficiente para não
sermos tomado nem como cético nem como fanático. No
momento oportuno aprofundaremos mais este tema.