Cultura e Entretenimento

Senso comum versus Ciência

Marcelo Druyan

Pessoas, em geral, recorrem a suas próprias observações dos fatos cotidianos para constituir um conjunto de conhecimentos que lhes permita entender, de forma mais ou menos ordenada, como funciona o mundo em que vivem. Algumas, mais que outras, defendem este empirismo como critério da verdade e tendem a adotar o senso comum em detrimento do conhecimento científico.

Esta "ciência particular" tem seus desdobramentos em filosofias pessoais, nas quais as generalizações levam a visões de mundo que se afastam ainda mais do conhecimento científico e aproximam-se do misticismo e da pseudociência. Ainda, o empirismo descolado do pensamento crítico reúne afinidades que logo fazem surgir os líderes carismáticos, os falsos cientistas, as publicações de caráter duvidoso e todo um séqüito de crédulos. Ora desvirtuam os conhecimentos científicos e se apropriam indebitamente do rótulo da ciência; ora atacam o racionalismo científico por sua incapacidade de conceber o "transcendente".

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Não fossem os casos que, nesse contexto, tornam-se matéria policial, eu diria que o empirismo acrítico do senso comum é um problema educacional. Um estado laico deveria fomentar o desenvolvimento da educação científica.

Empirismo
Se eu acreditasse em deus, afirmaria que ele nos deu o sol para que aprendêssemos a valorizar menos o senso comum e mais o pensamento científico. Se observarmos a posição do sol durante o dia, veremos que ele se movimenta ao redor da Terra. Isto é empírico. Nasce de um lado, move-se durante o dia e se põe de outro lado. Entretanto, a ciência nos mostra que este movimento é aparente, apenas uma ilusão. O contrário é verdadeiro. A Terra gira em torno do sol e isso é explicado pela lei da gravitação universal.

Se encontrarmos uma barra de metal e uma barra de madeira, expostas á uma temperatura ambiente de 15 graus, e tocarmos em ambas, o metal parecerá mais frio do que a madeira. Concluiremos, empiricamente, que o metal está mais frio do que a madeira. Mera ilusão. Na verdade, o metal é melhor condutor de calor que a madeira e, por isso, o fluxo de calor que sai de nossa mão é maior quando tocamos o metal. Logo, o equilíbrio térmico entre a mão e o metal acontecerá mais rápido e, embora tudo indique que o ferro esfriou nossa mão, na verdade, foi nossa mão que aqueceu o ferro pela transferência de calor. Isso é explicado pelo princípio da condutibilidade térmica.

Assim como o sol e a barra de ferro, existe em nosso dia a dia uma série de acontecimentos que sugerem, empiricamente, uma explicação que não corresponde à realidade, ou seja, aos princípios comprovados pela Ciência ou investigados por ela. Nossos sentidos não são, e nunca foram, os melhores instrumentos para operar o desvio do concreto. Para completá-los ou suplementá-los, existe a ciência.

É claro que esta regra não é absoluta e se aplica a casos especiais. Se eu encontrar uma barata no banheiro, não preciso levá-la a um especialista para, só depois, esmagar a cabeça dela. O que quero salientar é que os defensores da "experiência pessoal", do empirismo descolado do pensamento crítico, normalmente enxergam fantasmas onde existem apenas sombras.

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Ensinando a pensar O melhor que podemos fazer a favor da Ciência é lutar pela qualidade do Ensino e ensinar as pessoas a pensar. Isso não significa arrebatar seguidores ou doutrinar a favor de nossas convicções. Ao contrário, o pensamento crítico permite uma independência que não isola, um raciocínio baseado no conhecimento da lógica, uma personalidade inquiridora, uma investigação que procura evidências sólidas.

Ao ensinarmos a pensar, formaremos gerações que nos sucederão no tempo, que apontarão nossas falácias, nossos erros e darão prosseguimento à superação contínua do conhecimento pelo conhecimento.

O pensamento crítico é a arma mais poderosa da Ciência e a única que deveria entrar nas salas de aula.
Todos nós usamos a Psicologia de Senso Comum no nosso quotidiano. Tanto observamos o nosso próprio comportamento como também o dos outros, tentando prever quem fará o quê, quando e como. E muitas vezes sustentamos opiniões sobre como adquirir controlo sobre a vida. No entanto, uma psicologia baseada em observações casuais possui algumas fraquezas críticas, entre as quais um corpo de conhecimentos inexatos por várias razões. O senso comum não proporciona os requisitos necessários para a avaliação de questões complexas.

Geralmente, as pessoas confiam muito na intuição, na lembrança de experiências pessoais diversas ou nas palavras de alguma autoridade/celebridade.

Conjunto de opiniões tão geralmente aceite em época determinada que as opiniões contrárias são um completo absurdo.

Isto diz-nos que o senso comum varia conforme a época em que nos encontramos, ou por outras palavras falando, conforme o conhecimento relativo alcançado pela maioria num determinado período histórico, embora possa existir uma minoria mais evoluída que alcançou um conhecimento superior ao da maioria. Estas minorias são, geralmente, desvalorizadas.

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Temos como exemplo emblemático como o Galileu:

Enquanto que, no seu tempo, a certeza era de que a Terra era o centro do Universo e o que o Sol girava à sua volta, Galileu pensava de outra forma. Ele achava que era a Terra que girava em torno do Sol e por causa dessa sua opinião quase foi queimado pela Inquisição. Com isto, temos um exemplo concreto das influências da sociedade no desenvolvimento e na vida social do individuo.

Um exemplo de senso comum ainda aceite hoje em dia é a solidez da matéria. Um corpo físico não passa afinal de um estado vibratório que apresenta a ilusão de densidade e impenetrabilidade, em função de altíssimas velocidades das particulas constitutivas dos átomos. O que vemos afinal é apenas uma aparência da realidade subjacente. O novo parâmetro aceite hoje para definir a matéria é o cinético, ou seja, a energia.