Auto Ilusão
94% dos professores universitários acham que são melhores no seu trabalho que os seus colegas.
25% dos estudantes acreditam estarem no 1% do topo em termos da capacidade de se relacionarem com os outros.
70% dos estudantes consideram-se acima da média na capacidade de liderança. Só 2% pensam estar abaixo da média.
---dados retirados do livro de Thomas Gilovich How We Know What Isn't So
Auto-ilusão é o processo de nos enganarmos a nós mesmos de modo a aceitar como verdadeiro ou válido o que é falso ou inválido. É, de um modo abreviado, uma maneira de justificarmos crenças falsas a nós mesmos.
Quando filósofos e psicólogos discutem auto-ilusão, usualmente focam-se nas motivações inconscientes e nas intenções. Geralmente consideram a auto-ilusão uma coisa má, algo de que nos devemos proteger. Para explicar como funciona a auto-ilusão, falam no interesse próprio, preconceito, desejo, insegurança e outros factores psicológicos que, inconscientemente, afectam de um modo negativo a vontade de acreditar. Um exemplo comum é os pais que acreditam que o filho está a dizer a verdade mesmo se as evidências apontam claramente o contrário. Os pais iludem-se porque desejam que a criança esteja a dizer a verdade. Uma tal crença é considerada mais enganadora que a devida à falta de habilidade de avaliar as provas corretamente. Aquela passa por um erro moral, uma espécie de desonestidade, e é irracional. A segunda é uma questão de fé: algumas pessoas não são capazes de inferir corretamente a partir dos dados da percepção e da experiência.
Contudo, é possível que os pais deste exemplo acreditem na criança porque a conhecem intimamente e não conheçam os seus acusadores. Os pais podem não ser afetados por desejos inconscientes e raciocinar na base do que sabem sobre a criança mas não sabem do outro envolvido. Os pais podem ter razões muito boas para confiar na criança e não confiar nos acusadores. Em resumo, um ato de auto-ilusão aparente pode ser explicado em termos puramente cognitivos sem nenhuma referência às motivações inconscientes ou ao irracional. A auto-ilusão pode não ser uma falha moral ou intelectual. Pode ser o resultado existencial inevitável de uma pessoa bàsicamente honesta e inteligente que tenha um conhecimento extremamente bom da sua criança, que sabe que as coisas não são sempre o que parecem ser, que não tem quase nenhum conhecimento dos acusadores da criança, e que, assim, não tem razões suficientes para duvidar da criança. Pode ser que um observador independente examine a situação e concorde que as provas indicam que a criança está a mentir, mas se assim não fosse nós diríamos que estava enganado, não auto-iludido. Consideramos que os pais estão iludidos porque assumimos que não estão apenas enganados, mas a serem irracionais. Como podemos ter a certeza?
Um caso mais interessante seria um onde (1) um pai tem boas razões para acreditar que a criança diz provavelmente a verdade em qualquer situação, (2) as provas objetivas apontam para a inocência, (3) o pai não tem nenhuma razão particular para confiar nos acusadores da criança, mas (4) o pai acredita nos acusadores da criança. Tal caso quase impossível de explicar assumir qualquer espécie de motivação inconsciente e irracional (ou desordem cerebral) da parte do pai. Contudo, se a incompetência cognitiva for permitida como explicação para uma opinião aparentemente irracional, então os mecanismos psicológicos inconscientes não são necessários neste caso.
Felizmente, não precisamos de saber se a auto-ilusão se deve a motivações inconscientes ou não, para saber que existem situações em que a auto-ilusão é tão comum que devemos proteger-nos dela sistematicamente para a evitar. Tal sucede com a crença no paranormal ou oculto como na PES, sonhos proféticos, vedores, toque terapeutico, comunicação facilitada e outros tópicos abordados neste Dicionário.
Em How We Know What Isn't So, Thomas Gilovich descreve os detalhes de muitos estudos que tornam claro aquilo para que nos devemos precaver erro de interpretação de dados aleatórios e encontrar padrões onde eles não existem erros de interpretação de dados incompletos ou não representativos e dar atenção extra a dados que confirmam a hipótese, tirando conclusões sem esperar ou procurar dados que a negam avaliar dados ambíguos ou inconsistentes, tendendo a ser acritico de dados que nos apóiam e muito critico a outros dados.
É por estas tendências que cientistas exigem estudos claramente definidos, controlados, duplamente cegos, aleatórios, repetíveis e apresentados publicamente. De outro modo, corremos o risco de nos enganar-nos a nós mesmos e acreditar em coisas que não são verdade. É também devido a estas tendências que os não-cientistas devem tentar imitar a ciência quando tentam provar fenômenos "estranhos".
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Muitas pessoas acreditam, contudo, que enquanto se protegerem de wishful thinking, não se iludirão a si mesmas. Na verdade, se uma pessoa acredita que só se deve precaver de wishful thinking, então pode estar mais susceptível a auto-iludir-se. Por exemplo, muitas pessoas inteligentes investiram em produtos fraudulentos que prometiam poupar dinheiro, salvar o ambiente, o mundo, etc., não porque fossem culpados de wishful thinking mas porque não o eram. Assim, estavam seguros de estarem certos quanto aos produtos. Podiam ver as falhas das criticas. Encontravam as fraquezas dos oponentes. Eram brilhantes na sua defesa. Os seus erros eram cognitivos, não emocionais. Interpretavam mal os dados. Davam atenção aos dados confirmatórios, mas esqueciam ou ignoravam os outros. Não se apercebiam que o modo como escolhiam os dados tornavam impossível encontrar dados negativos. Interpretavam como favoráveis dados ambíguos ou vagos. Eram brilhantes a rejeitar dados inconsistentes com hipóteses ad hoc. Mas, se tivessem desenhado testes claros com controles apropriados, poderiam ter poupado tempo, dinheiro e embaraço. Muitos defensores de máquinas de movimento perpétuo e de energia livre não são necessariamente impulsionados pelo desejo de acreditar nas suas máquinas mágicas. São simplesmente vitimas de obstáculos cognitivos vulgares ao pensamento critico. Igual para as enfermeiras que acreditam no toque terapêutico e os que defendem a comunicação facilitada, PES, astrologia, biorritmos, cristais, vedores, e outras noções que parecem claramente refutadas pelas provas cientificas.
Em resumo, auto-ilusão não é necessariamente uma fraqueza da vontade; pode ser uma questão de ignorância cognitiva, preguiça ou incompetência. De fato, a auto-ilusão pode não ser sempre uma falha e pode mesmo ser benéfica. Se fossemos brutalmente honestos e objetivos acerca das nossas capacidades e à cerca da vida em geral, poderíamos ficar debilitantemente deprimidos.
Um dos maiores obstáculos ao nosso crescimento interior é a auto-ilusão. É incrível a capacidade que temos de nos enganar, criar ilusões para tentar moldar as circunstâncias de acordo com nossos desejos.
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Quando a realidade se apresenta de modo diverso do que gostaríamos, muitas vezes preferimos, como avestruzes, enfiar a cabeça na terra para não enxergá-la. É difícil ver frustradas nossas expectativas, por isso, optamos pela fantasia para afastar de nós a visão daquilo que não queremos enxergar.
Uma das ilusões mais comuns que cultivamos é a crença de que por amarmos alguém teremos o poder de transformá-lo ou que ele será capaz de mudar por amor a nós. É claro que essa possibilidade existe, mas a maioria das pessoas leva muitos anos para conseguir mudar e muitos passam pela vida sem jamais conseguir.
Uma transformação interior profunda leva tempo e exige perseverança e, principalmente, vontade. Vencer nossos próprios medos, limitações e bloqueios já é trabalho suficiente para que nos responsabilizemos pela mudança do outro. Podemos mostrar-lhe que existe um caminho, sugerir-lhe trilhas para chegar ao destino desejado, mas jamais trilhar o caminho em seu lugar ou obrigá-lo a fazer a caminhada. Passar a vida esperando que ele se modifique para poder nos fazer felizes, é tornar-se prisioneiro da ilusão.
O perigo da auto-ilusão é vivermos uma vida falsa que, mais cedo ou mais tarde, vai desmoronar como um castelo de areia, quando as ondas da vida se apresentarem com toda a sua força.
Por mais doloroso que seja, afastar de nós a ilusão e enfrentar o desafio de enxergar a realidade, é a única saída para evitar o sofrimento. Libertar-se de uma vida ilusória é uma conquista das mais valiosas, mas uma possibilidade que assusta a maioria de nós, pois a ilusão é uma concha bastante confortável.
Vencer a tentação de iludir-se exige muita coragem e uma convicção inabalável em ser fiel aos próprios princípios, não importa o preço que se tenha de pagar.
Segundo o mestre indiano Osho, A palavra coragem é muito interessante. Ela vem da raiz latina cor, que significa coração. Portanto, ser corajoso significa viver com o coração. E os fracos, somente os fracos, vivem com a cabeça: receosos, eles criam em torno deles uma segurança baseada na lógica. Com medo, fecham todas as janelas e portas - com teologia, conceitos, palavras, teorias - e do lado de dentro dessas portas e janelas fechadas, eles se escondem.
O caminho do coração é o caminho da coragem... O coração está sempre pronto para enfrentar riscos; o coração é um jogador. A cabeça é um homem de negócios. Ela sempre calcula - ela é astuta. O coração nunca calcula nada... Viver segundo o coração é desvendar o significado das coisas. O poeta vive segundo o coração e logo começa a ouvir dentro dele os sons do desconhecido. A cabeça não consegue ouvir, ela está muito longe do desconhecido. Está totalmente ocupada com o conhecido... Respeite-se, respeite sua voz interior e siga-a.
...Cometa tantos erros quanto possível, lembre-se apenas de não cometer o mesmo erro duas vezes. E você estará crescendo. Cometendo muitos erros é que se aprende o que é um erro e como não cometê-lo. Estando ciente do que é um erro é que se chega cada vez mais perto da verdade. Trata-se de uma exploração pessoal, você não pode depender das conclusões dos outros...
O homem de entendimento morre a todo instante para o passado e renasce para o futuro. Seu presente é sempre uma transformação, um renascimento, uma ressurreição.