Anderson Luiz da Silva

O primeiro livro da Bíblia, a
Gênese mosaica, traz em seu primeiro capítulo a
história da criação. No capítulo 1, vers. 1
encontramos: “No princípio criou Deus os céus e a
terra”. Já no capítulo 2, vers. 7 podemos observar a
criação do homem: “E formou o Senhor Deus o homem do
pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da
vida; e o homem tornou-se alma vivente”. Ainda no
mesmo capítulo 2, mas nos vers. 21 e 22 encontramos
o aparecimento da mulher: “Então o Senhor Deus fez
cair um sono pesado sobre o homem, e este adormeceu;
tomou-lhe, então, uma das costelas, e fechou a carne
em seu lugar; e da costela que o Senhor Deus lhe
tomara, formou a mulher e a trouxe ao homem”.
Todos já devem ter ouvido, algum dia, esta história
bíblica da criação dos céus, da terra, dos animais,
do homem, da mulher, etc. À isto dá-se o nome de
Criacionismo, ou seja, para toda criação houve um
Criador, e Este seria Deus.
Até o século 19, o ocidente tinha o relato bíblico
como a única explicação para o surgimento do planeta
e de tudo que há nele, apesar de que na época, já
haviam ocorrido algumas manifestações contrárias a
esta forma de pensar, mas poucos tinham coragem de
ir contra a influência da Igreja Romana.
Em 1859, o inglês Charles Darwin publicou o livro “A
origem das espécies”. Antes dele, como foi dito
anteriormente, outros cientistas já haviam sugerido
que os seres vivos mudam ao longo do tempo. Mas
Darwin, que fez observações de fósseis, plantas e
animais durante uma viagem ao redor do mundo, foi o
primeiro a propor uma explicação lógica para a
evolução. Nascia aí uma visão científica do
aparecimento do homem e de todos os animais: o
Evolucionismo.
Segundo Darwin, os seres vivos evoluíram ao longo
dos anos dando origem ao homem, aos animais e às
plantas que observamos no meio ambiente. Disso
decorre que as espécies mais bem adaptadas às
mudanças do ambiente sobreviveriam e transmitiriam
para os descendentes esta melhor adaptação. Enquanto
que as espécies que não obtiveram esta adaptação
foram desaparecendo. É por isso que até hoje
encontramos fósseis de animais que viveram a
milhares ou a milhões de anos atrás.
Pode-se, a partir daí, perceber o embate que
apareceu entre Criacionismo e Evolucionismo. De um
lado, religiosos classificando os cientistas de
hereges. De outro, toda uma comunidade científica se
aprofundando sobre a questão da formação do
Universo, do planeta Terra e dos seres vivos.
Para alguns teólogos, o planeta teria em torno de
6500 anos. Para os cientistas, a média seria de 5
bilhões de anos. Hoje não há dúvida sobre esta
datação. As técnicas radiológicas, que usam a
chamada meia-vida dos elementos radioativos,
mostram-nos que é impossível uma idade tão curta
para o planeta como querem afirmar os Criacionistas.
A igreja Católica, depois de relutar tanto com os
cientistas, já aceita a evolução das espécies como
verdade irrefutável. A mesma Igreja que outrora
combateu o Evolucionismo de Darwin, hoje prega que a
história bíblica da criação é uma alegoria que deve
ser discernida pelas luzes da Ciência.
O Espiritismo desde sua fundação com o lançamento de
“O livro dos Espíritos” já demonstrava uma posição
evolucionista, sem para isso tirar Deus da temática
da Criação.
A igreja Católica de hoje e o Espiritismo possuem um
posicionamento bem semelhante quanto à formação do
Universo. As duas correntes religiosas aceitam as
descobertas científicas, mas não aceitam o
aparecimento de tudo como obra do acaso.
Nós espíritas sabemos que Deus é o princípio de
tudo, mas nem por isso precisa derrogar Suas Leis e
criar tudo como um passe de mágica. Se assim fosse,
Deus não seria Deus, seria um mandraque que através
de uma palavra criaria tudo que existe no Universo e
no planeta Terra. Temos a convicção de que a Ciência
tem feito seu papel ao desvendar como se originou a
vida no planeta. A evolução é um fato, e contra
fatos não existem argumentos.
O que nos impressiona hoje, apesar de todo avanço
tecnológico, é que existem pessoas que não abrem mão
de acreditar no Criacionismo bíblico conforme
encontramos literalmente na Gênese mosaica. Está
incluída neste grupo a maioria das denominações
protestantes. Há inclusive um forte movimento nos
EUA que tenta abolir o ensino da Evolução nas
escolas americanas. No Aquário da Flórida, na cidade
de Tampa, não há aquela arvorezinha do tempo
mostrando a escala evolutiva dos animais ali
expostos. A direção do Aquário informa que
visitantes americanos que defendem o Criacionismo
bíblico se sentem insultados com a escala evolutiva.
É uma questão político-religiosa, explica a direção
do Aquário.
Se fizermos uma análise destes criacionistas
bíblicos, chegamos à conclusão que para os que
encaram a Bíblia como um livro infalível, não há
como aceitar a história da Criação como uma
alegoria, levando em conta o contexto
histórico-cultural do povo hebreu. Se assim eles
fizerem, terão também de aceitar outras passagens
como ficção ou entender que aquilo fazia parte do
costume de um povo. Sendo assim, eles teriam que
concordar que a proibição de Moisés em não consultar
os mortos é na verdade uma mensagem de acautelamento
com as comunicações mediúnicas, e não obra de
feiticeiro, como muitos teimam em nos atacar. Quando
alguém é mergulhado anos numa cultura religiosa,
sendo bombardeado com informações de que a Bíblia é
a palavra de Deus e tudo que está literalmente
escrito é verdade pura e absoluta, dificilmente
aceitará as conclusões das pesquisas científicas.
Hoje percebemos pelos avanços tecnológicos que não é
possível conciliar a Bíblia levada ao pé da letra
com a Ciência. Talvez seja por isso que dentro de
famílias religiosas tradicionais tenham saído muitos
incrédulos e céticos. Agora mais do que nunca é
necessário que estas Religiões mais tradicionais
repensem sobre o que está sendo pregado aos seus
jovens para que não tenham que sofrer uma reforma na
base da força.
O Espiritismo, muito pelo contrário, está lado a
lado com a Ciência seguindo a orientação de Kardec:
“Ou o Espiritismo caminha com a Ciência, ou não
sobreviverá”. Não podemos esquecer que as
descobertas científicas também vêm de Deus, pois
nada é revelado ao homem sem que antes seja aprovado
pela Espiritualidade Superior. O problema é que,
infelizmente, por causa do livre-arbítrio, nós seres
humanos utilizamos para o mal aquilo que foi criado
primariamente para o bem. Mas isso é uma outra
história e que fica para uma outra vez.
Está em andamento, aqui no Brasil, mais uma
tentativa de dar um verniz de respeitabilidade
científica ao velho criacionismo, a ideia de que os
seres vivos da Terra não evoluíram de forma natural,
mas foram magicamente criados pelo Deus
judaico-cristão-islâmico. Nas redes sociais, volta e
meia pipocam convites para eventos, em escolas e
universidades, com palestrantes comprometidos com a
tese.
Para evitar confronto direto, no caso de
instituições públicas, com as leis que proíbem o uso
de recursos do Estado para a promoção de ideias
religiosas – e, também, para mais facilmente seduzir
os incautos – os organizadores costumam evitar
menções explícitas ao criacionismo, a Deus ou à
religião em seu material de divulgação, mas as
entrelinhas sempre revelam o verdadeiro objetivo:
promover o ideário criacionista como uma
“alternativa científica” à Teoria da Evolução.
Em termos espirituais, é claro que cada um é livre
para crer no que quiser. Mas quando ideias
religiosas tentam se passar por ciência, um pouco de
ceticismo vem a calhar.
Em ciência, uma “teoria” é um conjunto articulado de
explicações bem testadas que dá conta de uma ampla
série de fenômenos. Por exemplo, a Teoria da
Relatividade Geral explica coisas como o movimento
dos planetas em torno do Sol e a expansão do
universo.
No parágrafo acima, é importante dar ênfase especial
à expressão “bem testadas”: toda teoria nasce como
hipótese – uma proposta de explicação para algum
fato conhecido – e se consolida à medida que permite
entender coisas que, para as hipóteses concorrentes,
são mistérios; e também à medida que faz previsões
que se confirmam.
A Evolução das Espécies é um caso clássico de teoria
bem consolidada: ela não só dá conta dos fatos tal
como eram conhecidos no tempo de seus autores,
Darwin e Wallace – por exemplo, a adaptação das
espécies a seus ambientes – como ainda permitiu
entender fenômenos sem explicação clara naquela
época, como extinções. E previu, certeira, não só
que a Terra deveria ser muito mais velha do que se
imaginava no século 19, como também que todos os
seres vivos têm um ancestral comum, algo
magistralmente confirmado mais de cem anos depois,
graças aos avanços da biologia molecular no século
20.
Em comparação, o criacionismo, quaisquer que sejam
seus méritos como doutrina religiosa, funciona muito
mal como hipótese científica: ou ele não prevê nada
(afinal, supõe-se que Deus pode fazer o que quiser
do jeito que quiser, enquanto que a ciência, para
prever, pressupõe causas naturais amarradas por leis
e limitações) ou só faz previsões fracassadas (como
a de que a Terra teria surgido há poucos milhares de
anos).
A vacuidade científica da tese criacionista leva
seus cultores a atacar a evolução. É uma manobra
típica de quem, sabendo que não tem nada a oferecer,
tenta dar a impressão de que o adversário também é
vazio, estabelecendo, assim, uma falsa equivalência.
Mas a evolução não é uma hipótese vazia: é uma
teoria bem consolidada, que sobreviveu a inúmeros
testes e que, se estivesse errada, teria sido
desmentida, nos últimos 150 anos, pela geologia,
pelo registro fóssil, pela biologia molecular. Só
que não foi.