
Durante muitos anos, um bem
conhecido homem com “poderes paranormais”, realizou
feitos marcantes como a leitura de mentes
(telepatia), entortamento de colheres (telecinesia),
suspensão de objetos no ar (levitação) e busca de
minerais preciosos. Ele inspirou dezenas de
escritores, parapsicólogos e cientistas a divulgarem
livros e artigos sobre o seu poder mental,
participou de vários experimentos científicos
conduzidos em laboratórios, bem como a física dos
metais entortados. Ganhou milhões e milhões de
dólares demonstrando publicamente seus supostos
poderes mentais, inclusive em programas de TV
assistidos por milhões. Este homem é conhecido em
todo o mundo, e certamente, também pelo leitor deste
artigo. Seu nome: Uri Geller.
Na década de 70 e 80, Uri Geller foi contratado por
companhias de exploração mineral em diversos países
do mundo. Em janeiro de 1980, a Newsweek reportou
que grandes quantidades de minérios foram
encontradas na África do Sul, por indicação de Uri
Geller. Em 1983, ele assinou um contrato milionário
com uma corporação japonesa para encontrar ouro no
Brasil. O contrato foi feito por um período de 6
meses com um pagamento imediato de $1 milhão e mais
outro tanto para o término do trabalho. Ele também
foi membro da Geller New York Corporation, uma
companhia de exploração de minérios que acreditava
aumentar a sua produção através de uma competente
equipe de geólogos especializados e da peculiar
função de Geller.
O seu prestigio alcançou todos os sistemas de
comunicação. Mais de 15 livros foram escritos sobre
ele, sendo que sete foram escritos por ele próprio.
A divulgação de seus poderes também foi feita pelos
mais respeitados jornais e revistas de circulação
internacional, tais como o Times, Nature, New
Scientist, The New York Times, Los Angeles Times e
mais outras 20, além de numerosas aparições no
sistema de rádio e televisão (inclusive no
Fantástico!) de praticamente todos os continentes.
Há alguns meses (março de 1996), Uri Geller apareceu
na CNN alcançando uma audiência de 100 milhões de
pessoas.
Uri Geller continuaria a ser visto e admirado por
todo o mundo como um homem com poderes extranormais,
não fosse a descrença de alguns estudiosos céticos,
que decidiram investigar mais de perto os poderes de
telepatia e telecinesia. Eles afirmaram, então, após
uma série de testes, que Geller era um grande
charlatão. Um desses céticos, o ilusionista
norte-americano, mundialmente reconhecido, James
Randi, demonstrou a facilidade com que se pode
ludibriar pesquisadores honestos e pouco
desconfiados.
Em um maquiavélico modelo experimental, Randi enviou
dois de seus alunos (conhecedores de bons truques
ilusionistas) a um laboratório que estava recrutando
indivíduos paranormais para investigar a torção dos
metais. Estes voluntários tinham a missão de exibir
poderes paranormais (os quais na verdade, não
passariam de truques): eles adivinhariam o conteúdo
de envelopes lacrados, entortariam hastes metálicas,
deformariam objetos trancados em caixas lacradas.
Quatro anos após, aqueles dois voluntários seriam
vistos como “estrelas psíquicas”: foram feitos
inúmeros convites para demonstrações de seus
“poderes paranormais” em universidades e congressos,
muitas delas ao lado do próprio Uri Geller.
Finalmente, em uma entrevista coletiva, Randi e seus
alunos revelaram a farsa e fizeram críticas
violentas aos poderes de Uri Geller.
Baseando-se nestas acusações, Geller moveu uma ação
contra Randi, alegando difamação, mas ele se saiu
muito mal frente ao tribunal, por não responder bem
às questões do julgamento. Assim, a corte do
distrito americano, em Washington, decidiu, por três
votos a zero, condenar Geller, que deverá pagar uma
sanção de US $150.000.00.
Os fenômenos parapsicológicos são ainda obscuros e
inexplicáveis para a ciência. Acredito que todos nós
temos capacidades mentais escondidas, mas que podem
ser desenvolvidas com o exercício e a prática. Para
aqueles que se auto-intitulam paranormais,
entretanto, seria mais prudente comprovarem seus
poderes com explicações racionais, sob o risco de
serem desacreditados por alguns estudiosos céticos e
caírem na “rede” de modelos experimentais
científicos onde, uma vez detectadas controvérsias,
elas serão pronunciadas com rigor e criticismo.
Silvia Helena Cardoso. Possui pós-doutorado pela Universidade da Califórnia de Los Angeles na área de neurociências, doutorado e mestrado pela USP na mesma área. Pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (1995-2002). Co-Fundafora, Diretora e Vice-Presidentes do Instituto Edumed.