
À pergunta: "Por que ainda hoje
a Europa é tão inimiga dos judeus?", o escritor
israelense Ephraim Kishon respondeu:
Por que o mundo é tão pró-palestino? Por que ama os
palestinos? Não, mas por ser contra os judeus. Eu
disse a um amigo curdo que a revolta deles está
fadada ao fracasso desde o princípio, porque eles
não lutam contra os judeus. O anti-semitismo é uma
doença atávica e patológica. (nai 11/99)
Isso significa que o anti-semitismo é "uma doença
renitente, em contínuo desenvolvimento, impossível
de ser controlada". Realmente, não houve nenhuma
década do século 20 em que não tivessem acontecido
manifestações e abusos mais ou menos intensos contra
os judeus. A seguir apresentamos apenas alguns
exemplos típicos do que aconteceu com os judeus
durante a história:
O anti-semitismo na história.
Após os dois levantes judeus de 70 e 135 d.C.,
sufocados pelos romanos da maneira mais brutal,
tentou-se eliminar o nome da pátria judaica, mudando
o de Jerusalém para "Aélia Capitolina" e
transformando a Judéia em "Palestina Síria", para
que não houvesse mais lembrança dos judeus. Por
volta de 160 d.C., Justino, o Mártir, condenou os
judeus como "filhos de meretrizes". Em 200 d.C.,
Tertuliano escreveu o primeiro manifesto cristão
sistemático contra os judeus. Ele também já tinha
passado a considerar a Igreja como sendo o
verdadeiro e eterno Israel. Depois disso foram
publicados muitos outros panfletos anti-judeus por
Pais da Igreja. Em 250, Cipriano, um dos Pais da
Igreja, escreveu: "O diabo é o pai dos judeus". Mais
tarde, essa acusação passou a ser encontrada
constantemente no anti-judaísmo cristão.
Em 325, no Concílio de Nicéia – pela primeira vez em
um concílio –, não foram convidados bispos
judeus-cristãos. A festa da Páscoa foi transferida
para o domingo após pessach (a páscoa judaica) com a
justificativa: "Seria o cúmulo da falta de
reverência seguirmos as tradições dos judeus nesta
maior de todas as festas. Não devemos ter nada em
comum com esse povo abominável". Em 387 d.C. teve
início a maior campanha de instigação cristã contra
os judeus de que se tem notícia na Antiguidade – e
ela foi patrocinada pelo Pai da Igreja João
Crisóstomo, a partir de Antioquia (Síria). Ele
disse, por exemplo, que a sinagoga era "lugar de
blasfêmia, asilo do diabo e castelo de Satanás". Em
415, o bispo Agostinho de Hipona escreveu que os
judeus carregam eternamente a culpa pela morte de
Jesus. Em decorrência, o monge Barzauma instigou uma
perseguição aos judeus em Israel, quando inúmeras
sinagogas foram destruídas. Em 538 foi vetada a
entrada de judeus nas guildas (associações de
mutualidade formadas na Idade Média entre as
corporações de operários, negociantes ou artistas),
restando à maioria deles apenas a opção do comércio.
Em 613 foi dado um ultimato a todos os judeus da
Espanha: batismo ou desterro. Posteriormente, o
Sínodo de Toledo ordenou que todos os judeus
"renegados" fossem executados nas fogueiras da
Inquisição. Em 1021 Roma foi sacudida por um
terremoto na Sexta-Feira da Paixão. Em conseqüência,
judeus foram presos e acusados de terem furado uma
hóstia com um prego. Eles foram torturados e
queimados na fogueira. Em Paris, no ano de 1240,
foram queimados publicamente por monges dominicanos
todos os exemplares disponíveis do Talmude. Essa foi
a primeira queima oficial de escritos judaicos pela
igreja católica.
Em 1348 a "peste negra" (peste bubônica) se
alastrava pela Europa, dizimando um terço da
população. Os judeus foram acusados de envenenar as
fontes de água, causando a epidemia. O papa Clemente
VI expediu uma bula em que declarava todos os judeus
inocentes dessa acusação, mas não foi possível
impedir que, em quase todas as localidades nas quais
havia uma comunidade judaica, irrompessem "pogroms"
matando inúmeros judeus. Em 1401 foram queimados
vivos 48 judeus em Schaffhausen (Suíça). Em 1431 o
Concílio de Basiléia determinou que os judeus tinham
de viver separados dos cristãos. Desse modo surgiram
em muitas cidades os bairros judeus, mais tarde
chamados de "guetos". Em 1523 Lutero escreveu que
Jesus era "judeu de nascimento". Ele empenhou-se
para que os judeus fossem tratados de maneira
amistosa, para levá-los à conversão.
Vinte anos depois, em 1543, decepcionado porque os
judeus não se convertiam à fé evangélica, Lutero
lançou seu manifesto anti-judaico "Sobre os Judeus e
Suas Mentiras". Nesse livro ele propunha que as
sinagogas deveriam ser queimadas. Pouco tempo mais
tarde, o príncipe da Saxônia expediu um rigoroso
mandato anti-judaico, tendo por base os escritos de
Lutero. Em 1756 o filósofo francês Voltaire lançou
suas "Obras Completas", contendo uma série de
violentas passagens anti-semitas. Em 1879 o alemão
Wilhelm Marr fundou a Liga Anti-Semita; ele é
considerado o criador da expressão "anti-semitismo".
Em 1880 o "filósofo do anti-semitismo" Eugen Dühring
publicou sua obra "A questão judaica como questão de
raça, nociva à cultura e à existência dos povos".
Ele escreveu:
A origem do desprezo generalizado pelos judeus
reside em sua absoluta inferioridade em todos as
áreas intelectuais... Trata-se de uma raça inferior
e degenerada. É tarefa dos povos nórdicos "arianos"
exterminar raças parasitárias desse tipo, assim como
costumamos exterminar cobras e outros predadores.
Em 1881 Richard Wagner publicou um ensaio onde
recomendava o anti-semitismo político e classificava
os judeus de "demônio causador da decadência da
humanidade". Em 1903 eram publicados pela primeira
vez, em São Petersburgo, os "Protocolos dos Sábios
de Sião", profundamente anti-semitas. Os
"Protocolos", escritos por anti-semitas cristãos,
falam de uma conspiração mundial judaica para o
domínio do mundo. Infelizmente, desde então houve e
há muitos que sucumbiram às mentiras dos "Protocolos
dos Sábios de Sião", dando-lhes mais crédito que às
verdades bíblicas. Certa vez até recebi uma pregação
gravada em fita atacando o judaísmo, na qual o
pregador se baseava nos "Protocolos",
vangloriando-se de tê-los em seu poder. Em 1905 foi
fundada a "União do Povo Russo", de cunho
anti-semita. Em 1918 foram afogados no mar em Ialta
900 judeus pelas mãos de anti-semitas e em
Sebastopol (Criméia) todos os líderes judeus foram
assassinados. Em 1922 o ministro do Exterior da
Alemanha, Walther Rathenau (o primeiro judeu a
ocupar esse cargo), foi assassinado por
anti-semitas. Mais tarde Hitler anunciava: "o
extermínio dos judeus será minha prioridade ao
assumir o poder. Eles não sabem proteger-se a si
mesmos e ninguém vai apresentar-se como seu
protetor". Em 1938 aconteceu a chamada "Noite dos
Cristais" na Alemanha, quando 191 sinagogas e
inúmeras instalações judaicas foram destruídas, 91
judeus foram assassinados e 30.000 arrastados para
campos de concentração. Durante a Segunda Guerra
Mundial foram mortos seis milhões de judeus. (Israel
Heute)
O anti-semitismo hoje
Deveríamos ter aprendido da história. Mas o
contrário parece estar acontecendo. Em ritmo
crescente ouvem-se novamente manifestações
anti-semitas de políticos europeus. Na Rússia os
judeus temem abusos anti-semitas e as pressões da
União Européia e dos EUA sobre Israel aumentam. Isso
sem considerar o comportamento das nações islâmicas
contra o povo judeu.
Quando Hillary Clinton, esposa do então presidente
dos EUA, esteve em Israel, causou perplexidade o
fato dela não ter reagido a uma manifestação
anti-semita da esposa de Arafat, simplesmente
ignorando suas palavras e prosseguindo com a
programação. Suha Arafat tinha afirmado em uma
entrevista coletiva:
Israel envenena o ar e a água dos palestinos em
Gaza, na Judéia e Samaria. Dessa forma os
israelenses desencadearam câncer em muitas mulheres
e crianças palestinas. Elas morreram dessa
efermidade.
Hillary Clinton não reagiu, levantou-se, abraçou
Suha Arafat depois dela encerrar suas declarações, e
fez o discurso que havia preparado. A senhora
Clinton foi duramente criticada nos Estados Unidos e
em Israel por não ter reagido a um ataque tão forte
contra Israel. Em Israel as afirmações de Suha
Arafat desencadearam uma onda de indignação. Muitos
vêem nisso o retorno de uma acusação anti-semita por
demais conhecida: os judeus envenenam os poços. (IN)
Algumas semanas após o trágico acidente com um avião
da "Egypt Air" em 31 de outubro de 1999, a imprensa
egípcia, leal ao governo, não hesitou em lançar a
culpa do acidente sobre Israel. (IN)
Sem dúvida vivemos em uma época extremamente
palpitante da história de nosso mundo. A Palavra
Profética torna-se palpável e os contornos dos
últimos acontecimentos mencionados na Bíblia
delineiam-se cada vez mais. Assim, por um lado
aumenta a pressão sobre Israel – por outro lado,
cresce entre as nações o temor do perigo islâmico. O
mundo não é pró-Israel, mas sabe que trata-se do
único país democrático no Oriente Médio, o único
baluarte do Ocidente que se opõe ao crescente perigo
representado pelo islamismo e pela dependência do
petróleo. Por essa razão, muito em breve poderia
acontecer a apresentação de uma "proposta de paz"
das nações ocidentais para o Oriente Médio. Israel
vai ser levado a entregar a maior porção possível de
terras para tentar satisfazer as nações árabes.
Então, já que, por interesse próprio, não se pode
abandonar Israel à própria sorte, oferecer-se-ão a
este povo certas garantias de segurança através de
um acordo de paz e de um programa de defesa. Porém,
baseados em certas passagens bíblicas, sabemos que
isso tudo não vai dar certo, mas que vai conduzir a
catástrofes de graves conseqüências para Israel e as
nações, até que Jesus Cristo voltará e trará Seu
reino de paz.
Qual o alvo específico do ódio aos judeus em nossos
dias?
Qual é o segredo do anti-semitismo? Em seu sentido
mais profundo, o anti-semitismo é um ataque do
inferno contra o próprio Senhor Jesus: "Os reis da
terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o
Senhor e contra o seu Ungido... Eu, porém, constituí
o meu Rei sobre o meu santo monte Sião" (Sl 2.2,6).
O "príncipe deste mundo" tenta impedir, através de
todos os meios, o domínio do Ungido de Deus, Jesus
Cristo, e inspira as nações a destruir Israel.
Herodes, com a matança das crianças em Belém, já
tentou matar a Jesus. A humanidade cada vez mais
ímpia também será sempre mais contrária a Israel,
pois Jesus voltará para lá como filho de Davi e ali
estabelecerá Seu reino mundial.
Como nós cristãos deveríamos lidar com o
anti-semitismo?
Em primeiro lugar, devemos cuidar para não sermos
arrastados pela tendência anti-semita, influenciados
pela política, pela imprensa ou mesmo pelos erros
cometidos por Israel. As emoções e o clima reinante
não deveriam nortear nossas atitudes e nossa posição
com relação a Israel, mas sim a Bíblia. Devemos
lembrar que em Sua Palavra o Senhor prometeu a
Abraão, de maneira muito explícita, que Sua aliança
com ele seria de geração em geração, até a
eternidade: "Estabelecerei a minha aliança entre mim
e ti e a tua descendência no decurso das suas
gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da
tua descendência" (Gn 17.7). Maria, mãe de Jesus,
conhecia muito bem sua Bíblia. Por isso, inspirada
pelo Espírito Santo, citou essa promessa em seu
cântico: "A sua misericórdia vai de geração em
geração sobre os que o temem... Amparou a Israel,
seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia a
favor de Abraão e de sua descendência, para sempre,
como prometera aos nossos pais" (Lc 1.50,54-55). E o
apóstolo Paulo diz com muito clareza: "Deus não
rejeitou o seu povo, a quem de antemão conheceu...
Porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis"
(Rm 11.2,29). Assim, Jesus não veio a este mundo
para tirar as promessas de Israel, mas, pelo
contrário, para confirmá-las: "Digo, pois, que
Cristo foi constituído ministro da circuncisão, em
prol da verdade de Deus, para confirmar as promessas
feitas aos nossos pais; e para que os gentios
glorifiquem a Deus, por causa da sua misericórdia,
como está escrito (Sl 18.49): ‘Por isso, eu te
glorifiquei entre os gentios e cantarei louvores ao
teu nome’. E também diz (Dt 32.43): ‘Alegrai-vos, ó
gentios, com o seu povo"’ (Rm 15.8-10). Quanto o
cristianismo falhou nesse sentido! No decorrer dos
séculos ele não apenas rejeitou a Israel
teologicamente e lhe roubou as promessas. Além
disso, ao invés de alegrar-se com Israel, o
cristianismo tornou-se o maior inimigo desse povo e
sucumbiu ao anti-semitismo. Mas, no final, o
anti-semitismo sairá perdendo. Em 1938, após a
"Noite dos Cristais", quando foram queimadas na
Alemanha as sinagogas judaicas, não demorou muito
até que toda a Alemanha também estivesse em chamas.
Assim, para sua restauração espiritual futura com a
volta do Messias, o Senhor deu a Seu povo a
promessa: "Não te permitirei jamais que ouças a
ignomínia dos gentios; não mais levarás sobre ti o
opróbrio dos povos, nem mais farás tropeçar o teu
povo, diz o Senhor Deus" (Ez 36.15).
Norbert Lieth nasceu em 1955 na Alemanha, sendo missionário na América do Sul entre 1978 e 1985. O ponto central de seu ministério é
a palavra profética, sendo o autor de diversos livros e conferencista internacional.