
Medo e ignorância, não controlados pela razão, quase
exterminaram, inteiramente, uma tribo na selva
brasileira em uma manhã de maio de 1930. A floresta
estava viva com todos os sons de seus pássaros
exóticos e o farfalhar da queda dos peixes na rede.
As crianças brincavam na barranca do rio ajudando
seus pais a conseguir o desjejum. Um dia normal,
talvez o nascer de mais uma idílica manhã, às
margens do rio Curuça, na fronteira com o Peru.
De repente o céu escureceu. Um imenso objeto rugiu
dentro da cerração da manhã, uma grande bola de
fogo, com o núcleo brilhante circundado por uma
franja de faíscas, línguas de chama arrastadas pela
força aerodinâmica e se esticando como uma cauda
demoníaca.
Então o asteróide sucumbiu à nossa atmosfera, o
empuxo e as incríveis pressões eram muito grandes
para permiti-lo em suas formas; explodiu formando
três grandes fragmentos. Juntos eles apostavam
corrida em direção às copas das arvores da floresta
tropical.
A tribo deve ter observado tudo aquilo com imenso
pavor, sem qualquer compreensão do terror que estava
para acontecer. Finalmente, após viajar bilhões de
quilômetros, vindo dos confins do sistema solar, os
três descendentes do grande asteróide explodiram
sobre a selva.
O som foi ensurdecedor, a luminosidade,
praticamente, cegava a visão uma vez que o
equivalente a uma energia de cerca de 500.000
toneladas de TNT (1/10 da energia em Tunguska) foram
liberadas pelas três pedras flamejantes. O ar
queimava, a floresta ardia pela
rajada com equivalência de 50 bombas do porte das
lançadas em Hiroshima, destruindo 1.300 km 2 da
aldeia da tribo enquanto a floresta tropical era
destruída num grande crepitar de fogo rasteiro e uma
parede de fogo consumia o habitat e os animais.
Os indígenas olhavam com terror. Seus agudos
sentidos sintonizavam-se com a floresta e
pressentiam a morte ao seu redor. Um enorme fogo,
aparentemente, de origem celestial estava destruindo
tudo aquilo que conheciam e amavam. Com todo o seu
modo de vida ameaçado, e provavelmente até suas
almas em risco, o pajé da tribo congraçou seus fiéis
num esforço para apaziguar os deuses do céu e
começou a preparar a poção mortal que controlaria o
problema.
Um padre católico, de origem européia, cumpria
naquela ocasião, naquele local suas obrigações
missionárias na América do Sul. Padre Fidélio
d'Alviano falou aos indígenas e reafirmou para eles
que os deuses não estavam zangados, oferecendo-lhes
o perdão, pela confissão dos pecados, dentro da
doutrina católica. Se este padre não tivesse se
imposto sobre a tribo como o fez, todos poderiam ter
morrido da mesma maneira que as seitas fanáticas do
século XX levam a morte seus seguidores. Ao retornar
aos escombros, aonde antes era a floresta e a tribo,
o padre Fidélio registrou estes eventos em seu
diário pessoal usando-o como referência para fazer
seu relatório ao Observatório Romano, orgão oficial
de imprensa no Vaticano.
A oportunidade feliz da presença deste missionário
significou que mais uma história de destruição,
causada por eventos, do tipo testemunhado em
Tunguska, pudesse ser registrado e alcançasse o
mundo científico neste século. Infelizmente, não
podemos ter a mínima idéia de quantos inocentes
tiveram suas vidas ceifadas, sem aviso prévio, em
áreas remotas e desoladas de nossa civilização,
graças ao impacto de alguma outra destas pedras
mortais.
É sobejamente conhecido que impactos do tipo
Tunguska-Brasil não são, na acepção da palavra,
impactos reais, são na verdade, explosões
atmosféricas ocorridas alguns milhares de
quilômetros acima do solo; portanto não desenvolvem
uma cratera no solo, sem que isto não os caracterize
como altamente destruidores. A ausência de cratera é
um ponto capital quando se tenta estabelecer o risco
envolvido nestes impactos. Quantos impactos
existiram sem que pudéssemos ter conhecimento? Sua
regularidade, a cada 20 ou 100 anos, e sua força
destruidora fazem deles uma ameaça verdadeiramente
perigosa. Eles estão abaixo do tamanho crítico para
destruição em massa mas podem facilmente destruir
uma cidade. O padrão de devastação do evento de
Tunguska atingiu uma área que, suprimiria,
diretamente, a parte da cidade contida em um círculo
de raio de 15 km do centro do Rio de Janeiro e
indiretamente, pelo menos mais 10 km, atingindo a
baixada fluminense.
Passaram-se setenta e três anos desde o último
evento Tunguska-Brasil, bem conhecido. A rápida
expansão da população mundial, localizada nos
perímetros urbanos tem resultado em países com
elevado percentual de sua população nesta áreas
metropolitanas, como Cingapura (100%) e Bélgica
(93%). Quanto tempo ainda teremos antes de uma área
densamente povoada ser devastada por um asteróide
subcrítico? As probabilidades é que tal desastre
acontecerá. Ninguém sabe com certeza quando
acontecerá, ou aonde será o impacto, mas acontecerá