
Os espíritas kardecistas,
influenciados pelo Positivismo declarado do sr.
Hippolyte Léon Denizard Rivail, vulgo Allan Kardec,
costumam dizer que sua doutrina é altamente racional
e sedimentada em observações científicas.
As biografias que lemos da vida de Allan Kardec
sugerem um Kardec metódico, racionalista e prático.
Só a título de exemplo, diz-se numa delas que quando
Kardec tomou conhecimento das tais "mesas girantes",
que levitam no ar e respondem às perguntas feitas
pelos presentes, o criterioso cientista positivista
responde: "eu acreditarei quando vir e quando me
tiverem provado que uma mesa tem cérebro para
pensar, nervos para sentir, e que se pode tornar
sonâmbula. Até lá, permita-me que não veja nisso
senão uma fábula para provocar o sono" (Henri Sausse,
Biografia de Allan Kardec, in Allan Kardec, O que é
o Espiritismo edição da Federação Espírita
Brasileira, Rio de Janeiro, Brasília 32a edição,
1988, p.14).
Essa passagem ilustra bem o ar racional de
pseudo-intelectualismo e de falsa erudição que se
tenta dar ao espiritismo kardecista, que está
presente em todos os seus livros doutrinários.
No entanto, ao se ler os livros de Allan Kardec, a
impressão que se tem é a mesma que tem qualquer
pessoa com um mínimo de conhecimento, ao ler um
artigo de uma dessas revistas pseudo-científicas
"super" interessantes que são vendidas nas bancas de
jornais: é a impressão de se estar lendo um texto
escrito por uma pessoa que só está repetindo o que
ouviu de outrem, mas que não tem a mínima noção
daquilo que diz.
O que Kardec faz transparecer em seus escritos é que
ele aprendeu bem mal aquilo de que trata, sejam
assuntos científicos, filosóficos, religiosos ou
doutrinários. E se aprendeu mal, ensina pior ainda.
Os pretensos argumentos científicos se encontram por
toda parte nos escritos de Kardec. E as "gagueiras"
também. Algumas delas até hilariantes.
Uma questão bem ilustrativa da gagueira
cientificista de Kardec é com relação à doutrina
espírita da pluralidade das existências nos mundos.
Segundo a "revelação" que Kardec recebeu dos
"espíritos", "todos os globos que circulam no espaço
são habitados" (A. Kardec, Livro dos Espíritos,
Inst. de Difusão Espírita, 79a edição, 1993, q. 55,
p. 60. O sublinhado é nosso). E quando ele diz
todos, inclui as estrelas, pois ele diz que "o Sol
não seria um mundo habitado por seres corporais, mas
um local de reunião de Espíritos superiores que, de
lá, irradiam seus pensamentos para outros mundos
(...) Todos os sóis parecem estar numa posição
idêntica" (A. Kardec, Livro dos Espíritos, op cit,
q. 188, p. 110).
Até aí, não parece mais do que uma opinião, ainda
que fantasiosa e maluca. Mas, como é de praxe nos
livros do Kardec, a afirmação vem somada a uma
observação "científica", que teria por função, a
nosso ver, de dar suporte ao que foi dito. Pois diz
Kardec, logo a seguir: "como constituição física, o
Sol seria um foco de eletricidade (sic!)".
A primeira exclamação que se faz com relação a essa
frase é a estranha associação da transmissão de
pensamento com a eletricidade. Não seria isso uma
materialização (das mais grosseiras) do pensamento?
Outra curiosidade desta passagem é a afirmação de
que os pensamentos irradiem das estrelas. Isso soa
muito mais como Astrologia do que como Astronomia, o
que revelaria uma personalidade bem supersticiosa ao
pretenso cientista Kardec.
Esse traço do seu caráter é também observado em uma
biografia sua, onde se diz que quando Kardec recebeu
sua primeira "revelação espírita", foi buscar
confirmação desta com uma quiromante, a Sra. Cardone,
que as confirmou através da inspeção das linhas da
mão de Allan Kardec (cfr. H. Sausse, op. e ed.
citadas p.22).
Observando a afirmação, agora sob o ponto de vista
científico, foi provado que, de fato, o Sol emite
uma quantidade astronômica de cargas elétricas, que
viajam no espaço através do chamado vento solar,
composto principalmente de prótons, partículas alfa,
elétrons e fótons (eletricamente neutros). Neste
sentido, pode-se dizer que o Sol seja um foco de
eletricidade. Mas ainda que haja irradiação de
eletricidade do Sol, o que isso prova? Se a
eletricidade do Sol fosse decorrente dos
“pensamentos”, isto é, da “inteligência” do Sol, a
que se deve a sua energia térmica? Seria ela fruto
do seu “amor”?
Parafraseando, então, o próprio Kardec, "a razão nos
mostra que" ele disse uma asneira.
Ainda com relação aos astros, a doutrina espírita
afirma que os mundos seriam mais ou menos avançados,
e os seres que neles habitam teriam graus de
"evolução" de acordo com o planeta (cfr. A. Kardec,
Livro dos Espíritos, op. cit., q. 55-58, p. 60-61;
q. 172-188, p. 106-110). E ainda segundo a doutrina
espírita, "à medida que o Espírito se purifica, o
corpo que ele reveste se aproxima igualmente da
natureza espírita. A matéria é menos densa, não
rastejam mais penosamente na superfície do solo, as
necessidades físicas são menos grosseiras e os seres
vivos não têm mais necessidade de se entre devorarem
para se nutrir." (A. Kardec, Livro dos Espíritos,
op. cit., q. 182, p. 108).
Então, de acordo com a doutrina espírita, quando
mais "atrasado" o mundo, mais grosseiros e "densos"
seriam os seres que nele habitariam. Ora, seguindo
este raciocínio, a não ser que Kardec considerasse a
Terra o planeta mais "atrasado" do Sistema Solar,
supor-se-ia que houvesse vida material (bem "densa")
nos outros planetas em órbita do Sol.. Que decepção
teria Kardec em constatar que a NASA, através de
sondas e de expedições à Marte e à Lua, jamais
encontrou um homenzinho verde sequer! Nem uma
simples minhoca!
Kardec afirma também, gratuitamente, que Júpiter
seria, no Sistema Solar, o planeta mais avançado
"física e moralmente" (sic!) (cfr. A. Kardec, o
Livro dos Espíritos, op. cit., q. 188, p. 110). Como
um planeta poderia ter progresso moral, isto é,
progresso em suas ações? Moral supõe livre-arbítrio,
coisa que um planeta, ser material, não pode ter.
Mas contrariando toda lógica, Kardec afirma com
todas as letras: "os globos têm livre-arbítrio" (A.
Kardec, A Gênese, Ed. Lake, São Paulo, 1a edição,
comemorativa do 300 aniversário dessa obra, cap.
VIII, no. 4, p. 144).
Engraçado que, para esta afirmação estapafúrdia,
Kardec não apresenta nenhum argumento científico...
Outra afirmação de Kardec feita sem nenhuma base
científica é a de que "o universo é eterno" (A.
Kardec, A Gênese, op. cit., cap. VI, no 51, p. 113).
Ora, o universo existe no tempo. E tempo é a duração
do movimento ou mudança, isto é, da passagem de uma
qualidade do estado de Potência para Ato. Então,
eterno é aquilo que não muda, isto é, que não passa
de Potência para Ato, e por isso não está sujeito ao
tempo.
No universo todas as coisas mudam, e portanto todo o
universo está sujeito ao tempo. Logo, o universo não
é eterno. Kardec, ao dizer que o universo é eterno,
prova que não sabia o que significa ser eterno. E
confirma sua ignorância quando, em outra passagem,
afirma junto com os "espíritos elevados" que "as
eternidades serão para eles (os espíritos maus) mais
longas" (A. Kardec, Livro dos Espíritos, op. cit.,
q. 125, p. 85).
E se não basta esta afirmação ser contra a lógica,
dizer que o universo é eterno vai contra a Teoria do
Big Bang, pela qual a ciência provou que o universo
teve um início. E nega também a 2a lei da
Termodinâmica, a lei da Entropia, que leva a
conclusão de que o universo terá um fim.
Mais uma vez, a doutrina espírita contradiz a
ciência.
Além desses erros, a leitura dos livros espíritas
nos permitem encontrar outras pérolas "astronômicas"
do Kardec e seus "espíritos superiores", como a
afirmação de que Marte não possui satélites (cfr. A.
Kardec, A Gênese, op. cit., cap. VI, no. 26, p.
103), ou a de que os anéis de Saturno são discos
sólidos (cfr. A. Kardec, A Gênese, op. cit., cap.
VI, no. 27, p. 103), apenas para citar alguns
exemplos.
E só para mostrar que as gagueiras kardecistas não
se limitam apenas ao campo da Astronomia, ele faz
suas contribuições na Biologia também. Aliás, ele
não; são os "espíritos superiores" que revelam a ele
que, com relação à formação dos seres vivos, os
seres nascem espontaneamente pois "o germe primitivo
existia já em estado latente". E os "espíritos"
justificam isso "cientificamente" perguntando: "os
tecidos dos homens e dos animais não encerram os
germes de uma multidão de vermes que aguardam, para
eclodir, a fermentação pútrida necessária à sua
existência?" (A. Kardec, Livro dos Espíritos, q. 46,
p. 58). Ora, esta tese de que os seres vivos surgem
da eclosão da vida na matéria é a tese conhecida por
abiogênese ou da geração espontânea, que foi provada
falsa por Pasteur em 1862. Novo engano dos
"espíritos superiores"?
Essas são apenas algumas amostras encontradas na
"rica" literatura de Allan Kardec. Mas o prudente
"cientista", já prevendo que erraria muito em seus
livros "inspirados", previne seus seguidores que "o
Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se
novas descobertas lhe demonstrarem estar em erro
acerca de um ponto qualquer, ele se modificará nesse
ponto" (A. Kardec, A Gênese, ed. cit, cap.I, no. 55,
p.37).
Esta afirmação, que soa tão humilde e despretensiosa
a ouvidos modernos que tanto gostam de ouvir pessoas
admitindo não terem certeza do que dizem, além de
mostrar o quão falível é a doutrina espírita, é, na
verdade, uma afirmação pouco corajosa de quem não
está disposto a assumir a responsabilidade pelo que
diz.
Se Kardec não se julga certo do que diz, seus livros
não passam então de uma "opinião" sua com relação às
coisas. Porém, se estamos discutindo a Verdade,
opiniões nada valem. E se tudo o que se tem são
opiniões, que estas então não sejam publicadas em
forma de livro, muito menos em forma de livros
doutrinários, como é o caso dos livros de Kardec.
Para concluir nosso trabalho, apresentamos o desafio
que Kardec faz à Igreja Católica, com relação ao
dogma espírita da reencarnação: "o que dirá a Igreja
quando a reencarnação for provada cientificamente?
"(Allan Kardec, Livro dos Médiuns, p.).
Enquanto ficamos aguardamos que a ciência consiga
provar algo que não existe, nós, por nossa vez,
desafiamos os kardecistas a explicar por quê as
"revelações" dos "espíritos elevados" contradizem a
ciência. Não são eles superiores a nós? Como se
enganaram em pontos tão básicos? Seria a ciência que
estaria errada? Ou foi Kardec que errou? Seriam os
espíritos superiores mentirosos e enganadores? Se
eles são mentirosos e enganadores, que espíritos são
esses, e de onde vêm?
Trocando em miúdos, o que nós devemos jogar na lata
de lixo: a doutrina do Kardec e de seus "espíritos
superiores", ou a ciência?