Cultura e Entretenimento

Um Panorama da Credulidade

Aristarco D'Assell

Este 'panorama da credulidade', creio ser imperioso iniciar o ensaio com uma definição de 'credulidade'. Conceituo 'credulidade' como 'a capacidade de se acreditar em alguma assertiva destituída de fundamento racional'. Porém, infelizmente, a questão sobre as causas e conseqüências da credulidade não é passível de ser exposta em termos tão simplórios. O crédulo freqüentemente acredita que sua crença é racional – fundamentada solidamente nos sagrados pilares da razão – e essa particularidade introduz um obstáculo à propagação do ceticismo sadio; em outras palavras, ninguém aprecia descobrir não ser tão racional quanto pensa: poucos – os mais grandiosos espíritos da espécie humana – entre os mais elevados advogados da liberdade – são capazes de se reconhecer imersos nos odiosos abraços do erro.

Constantemente me encontro aturdido – como um esfarrapado estúpido que se depara com um fato ininteligível – ante à facilidade humana de conferir crédito a declarações inverossímeis. Temo que a credulidade seja a fraqueza humana mais difundida – a mácula que degrada a humanidade – a ilusão mais perfeita e, ao mesmo tempo, mais insana – e pretendo, por meio deste texto, expor algumas das crenças que me parecem mais curiosas; extrair deste manancial inesgotável de lendas e mitos da humanidade – que comumente se alimenta de forma expressiva dos veios fartos das religiões – algumas – uma modesta minoria – que insistem em permanecer protagonistas no palco do trágico drama do desfacelamento da razão humana.

Gostaria de começar com uma história hipotética – que inclusive consiste em um pequeno teste para a credulidade do leitor – para introduzir o assunto: imagine que muitos indivíduos almejassem a morte de um homem de relevância – adornado com o fardo pesado da coroa da importância histórica – que denominaremos 'X'. Esses indivíduos não estão sob uma coordenação central e empreendem vários projetos de assassinato. Primeiramente, um dia colocam um líquido no lugar do combustível em seu helicóptero, calculando de forma tal que o helicóptero cairia após uns dez minutos de vôo. X comumente utiliza esse helicóptero em especial como meio de transporte, porém, curiosamente, naquele dia ele não o utilizou, escapando por pouco da foice da morte. Então, um outro grupo decidiu colocar uma bomba disfarçada sob a forma de mala ao seu lado, sob a mesa em que estava sentado – uma empreitada muito difícil, dada a dificuldade de se introduzir no escritório de X, porém conseguida após muitos esforços – todavia uns minutos antes da bomba explodir, um amigo de X vai conversar com ele, incomoda-se com a mala e então a leva para um lugar mais longe. A bomba explode, mata o amigo – contudo X sobrevive com pouquíssimos e leves ferimentos além das calças rasgadas. Uma terceira tentativa consistia no lançamento de uma ampola de gás venenoso na chaminé de sua casa – porém, próximo ao dia do lançamento foi colocada uma tela na chaminé que impedia a introdução da ampola. Detalhe no mínimo curioso: durante anos a chaminé esteve descoberta e somente bem próximo da terceira tentativa frustrada foi instalada a tela.

Supondo-se a história verdadeira, qual a explicação do leitor para essa sucessão de fracassos? Geralmente, quando conto essa história, sou confrontado com declarações do tipo: 'era destino', 'Deus julgou que não estava na hora', 'X não havia cumprido sua missão' e até 'X tinha um guru espiritual muito elevado e sábio'. Relativamente poucos afirmam acreditar, com firmeza, que foi esse um caso de pura sorte ou acaso.

Porém há mais um mísero detalhe que gostaria de acrescentar como um rodapé à história: ela, com pouquíssimas modificações, é verdadeira, corresponde à realidade. Ela realmente aconteceu com um dos mais célebres personagens da história: nada mais nada menos do que Hitler, o ditador sangüinário nazista que arrastou o planeta para a pior – a mais desumana e cruel – de suas guerras.

Digno de nota observar o que aconteceria caso Hitler fosse morto numa dessas tentativas: sob a perda de sua personalidade magnética e coordenação central, tudo leva a crer que a Alemanha entraria em colapso e a guerra acabaria de forma muito mais súbita – e provavelmente uns dois milhões ou mais de judeus seriam salvos da morte – pois é fato que os assassinatos em massa de judeus foram muito acelerados com o fim da guerra, por ordem expressa de Hitler, que inclusive desviou recursos bélicos preciosíssimos no fim da guerra para incrementar a velocidade dos assassinatos em seus famigerados guetos.

Será que, tendo em mente essas informações, continuará sendo tão simples e fácil reivindicar para Deus a misericórdia infinita de ter salvo a vida deste homem? Será que Deus – definido como o Ser perfeito – tornaria-se cúmplice e indiretamente culpado pela morte de milhões? Esse crime seria uma mancha até no caráter do diabo! Um espírita chegou a declarar-me que Deus reservava para Hitler algum propósito(senão – perguntou-me ele – porque sua vida teria sido salva?). Talvez ele creia inconscientemente que a extinção dos judeus resulte benéfica para o mundo(se isto for verdade, seria uma forte evidência a favor do famoso slogan do chefe de propaganda nazista, Goebbels: "uma mentira repetida inúmeras vezes torna-se verdade"). Porém creio que alguém cuja bondade natural não tenha sido desbotada pela fé – um ser que não tenha sido desvirtuado pelo dogma – não pode jamais concordar com tal crença cruel ao extremo – um verdadeiro punhal encravado no recôndito imaculado das almas teístas. Mesmo assim, somos informados de que nada é feito sem que Deus permita. Se isto procede, então teremos que refutar Sua bondade ou obrigados a descrer de Sua existência – a não ser que desejemos que esta crença desalmada – digna de hospícios e não de uma mente sadia – enrosque-se ainda de forma mais íntima e profunda nos corações ternos e gentis.

Parece-me muito menos inquietante pensar que as tentativas frustradas devem-se ao acaso cego – à sorte sem um objetivo definido – à coincidência aleatória – contudo jamais com o consentimento de um Deus que é infinitamente bondade. É provável que meu pensar seja evidência do quão balbuciante e pouco evoluída minh'alma se insere na áspera senda do desenvolvimento espiritual.

A idéia de um Deus vivo e atuante – uma providência divina que cuida de nós – um espírito cósmico que nos auxilia e fornece paz – leva, estranhamente, muitas pessoas a crenças interessantes. Em busca da coerência, logo após afirmarem que Deus é perfeita sabedoria e infinita bondade, adicionam a crença de que as pessoas sempre estão providas de virtudes suficientes para que possam ser salvas, enfrentar as dificuldades ou pelo menos que possam passar por elas sem traumas irreparáveis. Esta doutrina se condensa esplendidamente no ditado: 'Deus dá o frio conforme o cobertor'.

Concordo com o fato de que essa doutrina auxilia a lidarmos com nossos problemas – meus lábios são um túmulo quanto ao indivíduo que a aplique a si mesmo – porém sou adversário mordaz de quem a impute à humanidade inteira. Já que mencionei Hitler – o sangüinário ditador alemão – voltemos aos campos de concentração nazistas. Uma criança – sadia, mas integralmente imatura para lidar com o sofrimento – assiste às cenas mais impiedosas da história da humanidade: fome, tortura, experiências cruéis com humanos, assassinatos em massa, estupros – enfim, assiste ao sofrimento em seu mais alto grau concebível. É possível para um ser que se considere são sequer imaginar ser ela capaz de suportar esse sofrimento – ou pelo menos capaz de não ser infeliz por causa dele? Realmente há alguma criança normal que consiga assistir à tortura e execução de seus pais sem ficar traumatizada? Não é natural esperar que parte do indesejado espectro do tormento a persiga, cruel e constante, pelo resto de sua vida? Acreditar que, apesar de tudo, ela pode passar incólume por uma experiência dessa é compactuar com a crueldade – é desprezar a caridade – para uma satisfação egoísta e covarde de nossos anseios menos nobres.

É por isso que o ceticismo exige, antes de tudo, coragem – o destemor de não iludir-se com ilusões que trazem uma felicidade questionável – o inexpugnável anseio de não pertencer ao que Bertrand Russell denominava 'paraíso de insensatos'. O objetivo da vida pode – e deve – ser a felicidade do maior número possível de pessoas; e exatamente por isso jamais pode consistir numa crença egoísta que contempla os felizardos e degrada os degradados. Crença que para os afortunados consiste num consolo, para os oprimidos, trata-se de um fardo, no mínimo, injusto. Injusto visto que implica numa punição ao homem mais penalizado. Acreditar nessa doutrina é conferir à solidariedade uma rédea eterna – uma cumplicidade com a constância do sofrimento irracional que deve ser excluída de um código de crenças moral e sensato.

Outra crença curiosa relaciona-se com o célebre 'problema do mal'; ou seja, a questão de entender porque há o sofrimento no mundo se Deus é infinitamente bom. Os espíritas crêem que o sofrimento é de certa forma uma punição e 'purificação' por pecados cometidos em vidas passadas(eles não costumam dizem isso dessa forma tão crua, freqüentemente floreiam essas 'verdades' com 'máximas dignificantes' e frases emotivas). O que pensar desta doutrina? Junto com Ingersoll, declaro que é uma 'doutrina dos bem-afortunados; uma bela pedra para se jogar em um mendigo'. É cômodo para quem vive confortavelmente acreditar que os que sofrem são culpados pelo seu sofrimento – creio que essa constatação talvez possa esclarecer o curioso fato do porquê do espiritismo – especialmente o kardecista – encontrar maior eco nas classes mais favorecidas da sociedade.

Na verdade, essa crença desumana envilece a caridade e deve ser reservada aos abutres da espécie humana. Há casos de centros espíritas que não auxiliam certas comunidades carentes porque receberam 'mensagens de espíritos' dizendo que aquelas comunidades precisavam 'redimir o seu karma' e seria melhor para eles que não fossem auxiliados. Ao que parece, Deus se entristece ao saber que suas criaturas não irão sofrer nesta vida e que ele terá de satisfazer seus impulsos sádicos numa outra 'encarnação'...

Essa idéia de que o sofrimento é o castigo pelo pecado encerra uma psicologia imatura porém, de certa forma, natural – por isso a noção clara de um 'Deus pai' – é uma das mais cruéis que o homem já foi capaz de criar. É inevitável que ela limite o altruísmo; é compreensível que tolere o intolerável. Por exemplo: quando houve o ataque às torres do World Trade Center, foi muito comum ouvir frases do tipo: 'colheram o que plantaram'. Observei estarrecido muitos crentes que não conseguiam reprimir um sorriso de satisfação diante da tragédia de um ataque terrorista desta grandeza. Na realidade, os crentes – pelo menos em grande parte – não exprimem a verdade ao declarar que a vida é o dom mais sagrado – o bem mais precioso que Deus nos forneceu – na realidade, seu amor à vida é freqüentemente subordinado à crença infantil – mais coerente à natureza de uma hiena do que a de um homem – de que o sofrimento é a conseqüência merecida pelo pecado. Esta doutrina desumana, oriunda em última análise de uma crença num Deus infinitamente bondoso e sábio, extrapola o campo das 'verdades sagradas' e incorpora-se na ética e na moral inclusive de muitos que não aderem a um dogmatismo religioso.

Se a humanidade fosse mais racional e provida de maior empatia e bondade – enfim, se a humanidade fosse mais humana – reprovaria de todo o coração estes atos cruéis, sem qualquer atenuante – refletindo como expressou de forma sublime o grande cético Lord Russell, chamado por um teólogo de 'aberração da raça humana': "A ser cruel não acarreta que B esteja agindo corretamente ao ser cruel para com A. Decorre apenas que agirá corretamente se tentar impedir A de cometer outros atos cruéis. Se isso – como pode dar-se – talvez se consiga antes por meio de bondade do que de punição, concluiremos que a bondade é o método melhor".
Este raciocínio é um testemunho precioso do valor do raciocínio abstrato. Parece que a maioria das pessoas concordaria com este argumento nestes termos. Mas geralmente a concordância se modifica ao trocarmos 'A' por um assassino ou violentador do nosso filho, por um político corrupto ou por um torturador. Como escreveu o professor de lógica A. J. Ayer: "esse raciocínio é, sem dúvida, bem fundado, mas nem sempre emocionalmente fácil de aceitar". Definitivamente, o perdão não é natural – é transcedente ao meramente animal – e por isso é tão custoso divulgar-se essa prática tão nobre que reflete a magnanimidade de um homem.

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Admito sem ressalvas e desde já que a sublime idéia do perdão – inspirada não somente no cristianismo mas em muitas outras religiões inclusive anteriores a ele – foi uma das contribuições das religiões das mais elevadas. E é chegada a hora de cultivarmos este costume pelos motivos corretos – a supressão da malícia, maldade e vingança em nós mesmos – a instilação da bondade e altruísmo na humanidade – e não porque o próximo reflete uma entidade que, com toda a probabilidade, nossa própria mente criou.

O problema maior em acreditar-se na verdade absoluta de uma doutrina que não se baseia no venerável templo da razão, é que procedendo assim glorificamos o germe da intolerância. Essa intolerância – esplendidamente refletida na Inquisição e no Islã – reflete-se inclusive nas constantes acusações de imoralidade que se imputa aos incrédulos. Duvidar, questionar, expressar uma opinião sincera muitas vezes é encarado como sintoma de degradação moral. Esse pensamento é irreal e destituído de imparcialidade; são muito numerosos os exemplos de incrédulos cuja hombridade e honradez são das mais elevadas. Qual a mácula que há no caráter de Voltaire – cujos atos de generosidade suplantam o concebível? Eu rogo que me indiquem a desonestidade que há em Ingersoll, um ser humano que era munido de uma sensibilidade e bondade que beiram o irreal. Qual a crítica de degradação moral que se pode imputar a Spinoza – aquele panteísta provido de uma mansidão e resignação dignas de envergonhar qualquer cristão? E o grande filósofo cético Hume, de quem Adam Smith, o famoso economista, declarou que tinha se aproximado tão "perto da idéia do perfeito sábio e homem virtuoso, quanto o permite a fragilidade da natureza humana"?

Mas há um argumento mais poderoso, mais convincente que a mera citação de grandes e virtuosos incrédulos: as estatísticas. Neste aspecto, as estatísticas comprovam o que um raciocínio imparcial já indica amplamente: os descrentes, definitivamente, não possuem o comportamento depravado de que são acusados. Tendem a ter, na média, as mesmas atitudes comportamentais que os religiosos. Arrisco-me a dizer que só não são melhores por causa da própria religião, mas não me incursionarei neste complexo tema neste ensaio.

A crítica de imoralidade é melhor compreendida tendo em vista que, para os religiosos, a ética, em última instância, provém da religião. O cristão, portanto, realiza o seguinte raciocínio: se o cético rejeita as verdades religiosas, conseqüentemente ele se abstém de comportar-se de forma ética. Todavia, por sua parte, o incrédulo geralmente tem a compreensão de que a ética fundamenta-se, na sua parte mais importante, na própria razão humana. Pensar que a crença correta é necessária para que sejamos moralmente virtuosos é, em última análise, um assalto – efetuado pela fé – contra a razão e a imparcialidade. Digno de nota ressaltar ser esta condição necessária mas não suficiente: o diabo acredita em Deus e em Sua sabedoria, mas persiste em seus atos maldosos.

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Fato notável que curiosamente escapa a muitos crentes é que sua moral religiosa não prima pelo objetivo pragmático de aumentar a felicidade terrena e reduzir o sofrimento, enquanto que a dos incrédulos tende a ter esse objetivo como o mais influente. Na realidade, existem muitas regras religiosas que, definitivamente, contribuem para aumentar a infelicidade humana; isso se deve ao conhecido fato que para os religiosos teoricamente o que mais importa é a salvação eterna e não as "efêmeras alegrias deste inferior corpo material". Assim, temos que conviver com a tolerância aos intensos tormentos terrenos inspirados por uma questionável piedade, como, por exemplo, nas questões da proibição do uso de anticoncepcionais, do aborto, da indissolubilidade matrimonial e da eutanásia.

Contudo é necessário reconhecer que tem havido progressos nas religiões – vislumbramos, extasiados, o surgimento de raios de luz da esperança no lamacento terreno do irracional. Poucos, com certeza, mas sem dúvida, nevrálgicos. Com muita satisfação, somos espectadores dos avanços das religiões no campo do ecumenismo, por exemplo, embora saibamos que os avanços jamais serão grandiosos; a tolerância e a convivência pacífica são adversárias eternas do dogmatismo. Devemos incentivar essa aproximação entre credos diferentes – como um tributo formidável e constante ao progresso das sociedades – mas frisando que falta muito o que fazer no que se diz respeito à tolerância aos incrédulos.

Porém é preciso que se diga que nada é mais compreensível que a desconfiança eterna aos incrédulos – como já foi citado, eles comumente são reconhecidos como imorais – porém podemos labutar no sentido de reduzi-la nos campos onde a verdade pode ser comprovada experimentalmente. As estatísticas são parte fundamental desse processo, mas há outros campos também essenciais. Por exemplo, inúmeras religiões, porém principalmente a cristã, costumam afirmar que o cético em seu leito de morte sofre, arrepende-se, retrata-se, se converte. É necessário para eles acreditar que é necessário o auxílio divino nos momentos mais difíceis da vida. Essa noção parcial não é algo que mereça ser levado a sério; qualquer pesquisa cuidadosa indica seu fundamento em precárias e frágeis provas. Consta que Hume esperou tranqüilamente pela morte. Voltaire – já muito idoso e próximo da morte – constantemente ironizava seu fim próximo. Uns meses antes de morrer, visitava um amigo e declarava: "parei de morrer para te visitar". Quando a filha o beijava, afirmava que era "a vida beijando a morte". Bertrand Russell esteve próximo da morte várias vezes, e encarou todas essas ocasiões com naturalidade e serenidade.

Também é com muito contentamento somos espectadores do declínio de uma crença infinitamente absurda: o inferno, castigo reservado principalmente a todo aquele desprovido de humildade, e por isso incapaz de admitir ser a espécie humana a obra suprema do Criador infinitamente perfeito. Já era hora de deixarmos que o perfume da gentil flor da alegria invada nossas vidas e arraste para o passado a infame doutrina do tormento eterno e seus medos histéricos. Creio que jamais serão inteiramente compreendidas as razões pelas quais os homens são capazes de acreditar no inferno e, simultaneamente, na infinita bondade divina; trata-se de uma singular e lamentável mistura de insanidade e crueldade.

Por fim, acredito que todas essas doutrinas são oriundas – direta ou indiretamente – da soberba. Todas elas estão solidamente baseadas na crença de que o homem é criação especial da natureza – que há um ser infinitamente bom que dispende Seu precioso tempo na valiosa contabilidade de nossos atos. Essa concepção é radicalmente oposta às conseqüências diretas da teoria da evolução – assim, tal como as verdades dominicais proclamadas em rituais solenes, é freqüente que também neste campo as pessoas não incorporem o aprendido em sua vida prática.

P. S.: Ao leitor religioso que leu até aqui, endereço minhas mais sinceras felicitações pela capacidade de ler um texto que critica suas convicções sem dúvida profundamente arraigadas. A você especialmente, apreciaria esclarecer um ponto no qual posso ser alvo de críticas. Se no meu texto transparece um desprezo aos religiosos, por favor, não pense que eu os odeio. Na realidade, eu renego crenças que considero prejudiciais – mas jamais seres humanos honestos e, não raro, nobres. As pessoas que mais amo, inclusive, estão sob as influências da superstição intitulada 'cristianismo'. Ingersoll, a este respeito, costumava dizer: "eu não odeio o homem com reumatismo; eu desprezo o reumatismo, porque ele aflige o homem".
Também ao leitor religioso, caso queira ler as objeções ao meu texto formuladas por gente muito sábia e evoluída que propaga sua religião, vou poupar o trabalho de procurar as objeções e as escrevo abaixo:

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Católicos – "O autor do ensaio 'Um panorama da credulidade' caracteriza-se por ter uma superficialidade extremada. Sua soberba o cega e assim ele não é capaz de ver mais além do que o meramente humano; as respostas às suas críticas podem ser encontradas no Catecismo da Igreja, versão atualizada de 1992, capítulos XX, parágrafos YY e ZZ. É necessário que rezemos para que um dia Deus possa infundir uma graça em seu espírito, e assim, possa ele se converter e passar a pertencer ao verdadeiro corpo místico de Cristo".

Espíritas – "'Panorama da credulidade' é produto oriundo de uma personalidade desequilibrada e apegada em demasia ao puramente material. Sua alma não evoluída é insensível às vibrações cósmicas mais elevadas; mas, com certeza, um dia, ele aceitará as Verdades Eternas divulgadas pelo espírito Emmanuel e pelo cientista Allan Kardec. É conveniente que lembremos tratar-se esse texto superficial como um estágio, uma etapa de seu natural desenvolvimento espiritual".

Protestantes – "O reino de Satanás está cada vez mais avançando, e o 'Panorama da credulidade' é prova incontestável deste lamentável estado da humanidade. Mas não esqueçais das promessas de Cristo! O Segundo Advento está próximo! Oh! Deus! Compadecei-Vos deste lamentável pecador, e não permita que ele continue sendo instrumento do Maligno!"

Islâmicos – "Alá se compadeça desse infiel! Alá se compadeça de todos os infiéis!!!"

Hinduístas – "O autor do fatídico texto 'Um panorama da credulidade' está sob as ilusões de Maya, e é incapaz de reconhecer o som cósmico de 'Om', que habilita nossas almas à uma vida mais santa, mais pura e mais ascética. Meditemos e oremos por sua alma, para que na próxima encarnação ele não volte como um cão ou coisa semelhante."