“Por oposição aos
gerontologistas, que analisam
a velhice como um processo biológico, me interesso
pela velhice como um acontecimento estético.
A metáfora mais bonita que conheço para a
velhice é o crepúsculo, o pôr-do-sol.
O crepúsculo é lindo.
Faz pensar.
No crepúsculo tomamos consciência da rapidez do tempo
...
No crepúsculo sentimos o tempo fluir
rapidamente .
Por isso muitas pessoas tem medo dele.
A famosa “happy hour” foi inventada como terapia para
a tristeza do crepúsculo ...
A juventude eterna,
que é o padrão estético dominante
em nossa sociedade, pertence à estética das manhãs .
As manhãs tem uma beleza única que lhes é própria.
Mas o crepúsculo tem um outro tipo de beleza,
totalmente diferente da beleza das manhãs.
A beleza do crepúsculo é tranquila,
silenciosa,talvez solitária.
No crepúsculo, tomamos consciência do tempo.
Nas manhãs, o céu é
como um mar azul, imóvel.
Nos crepúsculos, as cores se põem em
movimento:
o azul vira verde, o verde vira amarelo, o amarelo vira
abóbora,
o abóbora vira vermelho, o vermelho vira roxo, tudo
rapidamente.
Ao sentir a passagem do tempo, nós
nos apercebemos
de que é preciso viver o momento intensamente.
Tempus fugit - o tempo foge - portanto, Carpe diem -
colha o dia
No crepúsculo,
sabemos que a noite está chegando.
Na velhice sabemos que a morte está chegando.
E isto nos torna mais sábios e nos faz degustar cada
momento como uma alegria única.
Quem sabe que está vivendo a despedida olha para a vida
com olhos mais ternos ...